Comunitarismo, até onde?
A aldeia de Rio de Onor fica a norte do nosso norte, fica a dois curtos passos da fronteira com Espanha, e a três iguais da aldeia, sua siamesa, Rihonor de Castilha.
Desta aldeia portuguesa se diz que é a melhor preservada das poucas aldeias ainda comunitárias. Noutros tempos, mais do que agora, a população organizava-se para dividir entre si o esforço das tarefas necessárias à sua luta para viver naquela Terra Fria, lugar com clima tão severo e relevo tão teimoso. Partilhavam o trabalho nas terras de semeadura e nos lameiros (prados que acompanham cursos de água), orientavam-se nas vezeiras (pastoreio à vez) e no forno comunitário, e havia até o boi cobridor que por todos era bem alimentado a para todos bem trabalhava. Foi com a força desta aliança que as gentes foram sobrevivendo à fragilidade do isolamento de resto dos seus países, força que até fez medrar o dialecto rionorês, qualquer coisa com português arcaico e muitos toques de castelhano.
Desta aldeia portuguesa se diz que é a melhor preservada das poucas aldeias ainda comunitárias. Noutros tempos, mais do que agora, a população organizava-se para dividir entre si o esforço das tarefas necessárias à sua luta para viver naquela Terra Fria, lugar com clima tão severo e relevo tão teimoso. Partilhavam o trabalho nas terras de semeadura e nos lameiros (prados que acompanham cursos de água), orientavam-se nas vezeiras (pastoreio à vez) e no forno comunitário, e havia até o boi cobridor que por todos era bem alimentado a para todos bem trabalhava. Foi com a força desta aliança que as gentes foram sobrevivendo à fragilidade do isolamento de resto dos seus países, força que até fez medrar o dialecto rionorês, qualquer coisa com português arcaico e muitos toques de castelhano.
Saiu-nos frustrado o passeio à beira rio e acabámos a beber um café e a fazer perguntas ao senhor atrás do balcão. Num estilo nada virado para o turismo, ou talvez até já farto dele, respondeu-nos que ah isso o trabalho comunitário agora fazemos pouco cada vez há menos gente temos este campo largo aqui à frente onde cada família trata de um pedaço e todos se juntam na altura de o trabalhar. Conversa desconsolada, como a luz daquele dia, e cansados que estávamos esmorecemos à espera que todos fossemos e viéssemos da casa-de-banho. Entrento fiquei a saber que o Grupo Mário Madeira, com o seu palco móvel, vai tocar a Rio de Onor no dia 12 de Maio às 22 horas: um acordeão, duas guitarras e duas mini-saias prometem pôr a dançar até os esqueletos. E entra outro cliente. Boas tardes! Atão Manel hoje calhou-te a ti? É verdade o Zé teve de ir levar a irmã e vim cá eu ora tem de ser assim um vez eu outra vez ele temos de ser uns prós outros. É. O Zé comprou três isqueiros, dá-me lá um de cada, um do Sporting, outro do Porto e outro do Benfica, experimentou cada um deles e saiu.
Em Rio de Onor está a cair em desuso o comunitarismo agro-pastoril mas o próximo grito da moda vai talvez ser o comunitarismo turístico-comercial.
E porque o Manel do café não se descoseu com grande coisa, andei pela net à procura de mais informação sobre estas coisa do comunitarismo. Há um livro Rio de Onor, Comunitarismo Agro-pastoril de 1953, do etnólogo António Jorge Dias (editado pelo Presença) e este pequeno texto, com curiosidades q.b.!
7 comentários:
Ele há coisas terríveis. Li o teu belo post com a maior atenção. O tema é sério. A graça (do comunitarismo turístico-comercial) pertinente, e tem olho. Tudo isso. Mas. Mas... Mas só fiquei com uma coisa na cabeça. Uma coisa? Uma pergunta, digamos. Uma pergunta - Porque raio um tipo entra num café em Rio de Onor e compra três isqueiros: um do Porto, outro do Benfica e outro do Sporting??!!!?'!?
Ou tem em três netos, três adeptos, ou os três isqueiros são para usar em comunidade com outros e puxar daquele que for mais conveniente consoante os amigos à mesa... não sei!
Aqui está mais um post a reler, com links, porque o vejo agora a correr... Mas lembro-me que concluímos também que o comunitarismo que percebemos (pers)existir em RO não é muito diferente de algumas práticas que se encontram noutras terras... Ou seja, haveria de facto que investigar um pouco mais. E começar por ler o Jorge Dias, o primeiro antropólogo digno do nome no nosso país, só pode ser o melhor começo... Hás-de emprestar-me o livro, OK?
Claro que empresto! Mas primeiro tenho de o comprar e antes disso de o encontrar à venda!
Sim, és capaz de ser mais bem sucedida se começares por procurá-lo numa biblioteca...
Fui a Rio de Onor uma vez, há uns anos. Lembro-me de uma conversa parecida com a do café, a fazer umas perguntas a um residente sobre o tal comunitarismo. Ele aproveitou as respostas para nos mostrar a sua produção de mel. De favo. Espremido por ele ali na garagem, ainda com abelhas mortas e asas a flutuar entre o ambar. Comprei um frasco. Tenho uma vaga ideia que era bom.
Pois... Que triste que nós fomos... Trabalho de campo feito «à la minute»... Apercebemo-nos logo que a coisa soava a «déjà vu» para o senhor do café... Mas também por isso foi engraçado captar depois o comentário dele espontâneo ao vizinho...
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