03 maio 2007

Selvagens e acampados

29.04.07, Lama Grande, S. de Montesinho, Bragança

Na lista de alojamentos do ICN para o parque de Montesinho, há umas fotos-giras de casas de alvenaria de pedra recuperada, com camas de lençóis lavados, almofadas fofas e chaminés a fumegar. Ao longo do trajecto que tínhamos planeado para o nosso passeio cruzar-nos-íamos com 4 destes alojamentos da responsabilidade do ICN. Pareceu-nos perfeito dispensarmos o carregar às costas de tendas, colchões e sacos de cama quando, ainda para mais, a alternativa passava por alugar umas destas casas-abrigo que a meio percurso no receberia de braços abertos.
O pedido de informações via e-mail está, ainda, por responder por outro colega que não o colega Sr. Simpático que nos esclareceu as dúvidas sobre os percursos. Recorrendo ao telefone “o Parque está cheio, só temos disponível a Casa Retiro de Montesinho e apenas para a noite de Domingo para Segunda-feira”. “Cheio?” Mas falava-se do Parque Natural ou do Parque de Campismo? “Cheio?” Verificámos a página da Internet: as restantes 3 casas que nos interessavam aparecem como estando “em recuperação”(!).
E assim, lá voltámos a carregar as mochilas com tendas, colchões e sacos de cama, para podermos dormir onde tivesse de ser.

No Sábado, ao pôr-do-sol, o chão da Serra de Montesinho estava ensopado e a chuva a querer espreitar das nuvens. Por prudência apontámos à Casa Abrigo da Lama Grande “em recuperação” que sabíamos, por conversa com gente na aldeia de Montesinho, estar aberta. Quando chegámos aos 1480 m. de altitude lá estava o frio e o Abrigo, afinal uma senhora-casa, comprida, com casas de banho que não preferimos à natureza e duas salas apetrechadas de lareira. Havia algum lixo arrumado numa caixa sob o alpendre, portas destrancadas, janelas sem vidros e portadas às escancaras. Lá dentro garrafas (vazias) de vidro, caricas e fuligem pelo chão, uma cadeira e uma vassoura. Mas de obras nem sinal!

Com arte, lá acabámos por montar as tendas no chão seco dentro do Abrigo, à luz de uma fogueira com lenha que gentilmente lá estava à nossa espera. Encostámos as portas e as portadas, comemos e fomos dormir. Não choveu durante a noite, nem ouvimos lobos a uivar. De manhã estava mais frio dentro do que fora do abrigo.

Mais ou menos retemperados com o descanso, à abalada para a segunda etapa da aventura uma reflexão se impunha e foi matéria debatida logo nas primeiras passadas do trajecto: quem seriam as figuras possivéis para substituir o Carmona Rodrigues no município de Lisboa? Ah não, não foi aqui que estivemos a brincar aos presidentes! Primeiro tentámos entender: por que razão é que o ICN não tem estes abrigos a funcionar? Estão as casas construídas e, pelo trato que terão tido, nem estão nada mal executadas; para se chegar lá já há caminhos percorríveis por automóveis; o lugar é bonito e isso é por certo o bastante para quem goste deste estilo de preguiça; ai... mas do que mais se pode estar à espera para pôr em exercício estas existências. E nem insistimos na questão que levará o ICN a apresentar estes abrigos como "em recuperação", metam "abandonados" sempre se sabe melhor com o que contar.

Mais próximo da chegada a França, à aldeia de França, encontrámos a Casa Abrigo do Rio Sabor também "em recuperação", nos mesmos moldes da empreitada da Casa Abrigo da Lama Grande. Mas que bonita é esta antiga casa de Guarda Florestal.

3 comentários:

raquel disse...

Se um fim de semana prolongado tem tanto que contar, tão belas fotos para mostrares, imagino agora melhor a «trabalheira» das vossas grandes viagens...

paulu disse...

E será que é só com as casas-abrigo que o ICN faz da recuperação um sinónimo de abandono? Não faz o mesmo com a própria natureza?

Jota disse...

É preciso ser-se artista para conseguir deixar ao "abandono" a própria Natureza, ainda para mais quando se devia estar a tomar conta dela – mas os tipos do ICN são, para tal, hábeis q.b.

Atenção que agora vem aí o ICNB que só me parece ser o ICN_B, assim como que uma 2ª tentativa para o ICN… um plano B!
Mas este é um B é de Biodiversidade: Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Como escreveu, no Público deste Sábado o Sr. Galopim de Carvalho, com esta da Biodiversidade onde fica a Geodiversidade, onde vão ser "conservados" os minerais e as rochas?
Parece que se esqueceram deles, ou a eles chegaremos à 7ª tentativa, com o ICN_G!
A página do Público é de acesso restrito mas encontrei cópia do artigo neste post no Blog do Departamento de Ciências Físicas e Naturais da Escola EB 2.3 Dr. Correia Mateus, em Leiria.