Mostrar mensagens com a etiqueta Música. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Música. Mostrar todas as mensagens

10 dezembro 2007

Mas Qual Teima?

Eles são dias de céu mesmo-azul e ar mesmo-fresco. São o Cabo Sardão com cegonhas e o Alentejo que até lá nos leva, são o rio Douro, o Mondego, o Tejo e o Sabôr, são estuários de Norte a Sul. São um pires de arroz doce acabadinho de fazer, são açúcar queimado em caramelo, são uma caixinha com uma dúzia dos conventuais Celestes e, já que estamos na altura, são azevias de grão de bico. São uma bica bem tirada, são verdadeiras morcelas de arroz com grelos, são bacalhau cozido com suave banho de azeite, são um robalo escalado. São vinho verde leve do gás, são vinho do Dão espesso da força, são um Raízes tinto do Ribatejo. São um muro acabado de caiar, são azulejos a revestir uma igreja, são calçada de calcário, são beirados com ninhos. São barros de Barcelos, oiros de Viana, festas de Campo Maior, estrelícias dos Açores. São cerejas, são morangos, são figos, Figos e Moutinhos e Cristianos e Vanessas e Naides e Telmas. São garranos no prado, são castro-laboreiros e serras-da-estrela. São inteligentes vias verdes e mb nets e declarações online, mesmo as do IRS. São raros Cornucópias e Ballets Gulbenkians e planos Bês e Bzs e Sinais. São quentes cobertores de papa e grossas mantas de Minde, cestos de vime com pão caseiro de Moitas Vendas que se vai ensopando numa sopa de nabo. Eles são todas estas coisas que, de entre tantas outras, só nós temos e das quais só nós conseguimos gostar assim tão-tanto-tão!

Mais palavras para quê? Os Clã são do melhor do português! Deles já só se espera o Tudo e ainda assim aqueles 5 Artistas conseguem rebentar as nossas espectativas!

O Concerto quinta-feira passada na Aula Magna foi uma bomba, toma lá, sem espinhas, sem teimas, a todo o gás!

02 dezembro 2007

Maçã de Junho

“Bêbado ou sóbrio, ele canta sempre bem” – disse a fã encantada à saída do Coliseu para o microfone que lhe era estendido por uma TV qualquer que ontem pôs no ar esta original opinião.
Não aguento ouvir o palavreado papagueado destas pequenas cabeças.

É por causa disto, e de todos os istos e aquilos que surgem sempre que de ti, Jorge, se fala ou a ti, Jorge, ouvimos cantar, que já não vou ver-te tocar ao vivo faz tempo.

Mas regala-me ter barriga cheia de cenas e sons da altura em que descobri que o Bairro do Amor se podia ver ao vivo e nas cores dos lápis que o pintavam, ali no Ritz Club até às 3 da manhã ou mais, não fosse haver teste da Faculdade dali a poucas horas. Daí a descobrir que aquele Bairro era uma célula da Terra do Amor, foi um gosto!
Vi que o mundo pára só para te ouvir com o piano, com a guitarra e para te ver a sacudir o cabelo, a fazer subir um ombro, a levantar o pé para depois fazer bater o calcanhar. Muito.
Hoje guardo tudo isto aqui algures, cá atrás do meu pulmão esquerdo. Em cima. E oiço-te quando me apetece com o esforço do primir de um botão.

Há três anos atrás aventurei-me a ir até ao Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. Tentei. Ouvi. Esperei. Mas não funcionou. Os piropos não tinham mudado e daquela vez até se juntaram alguns comentários cegos-e-surdos incapazes de compreender, ou de aceitar, que tivesses tido a intenção de apresentar o teu último álbum tocando-o pela ordem tal qual está no CD. Pequenas cabeças de palavras papagueadas. Porque é que têm de ser assim?

O.k., tiro a mão do queixo e não penso mais nisto, pá!

12 junho 2007

oh mighty Beastie Boys!

11.06.2007, Aula Magna, Lisboa

Para mim pouca diferença há entre dispor-me a assistir ao Berlioz no Coliseu dos Recreios ou aos Beastie Boys na Aula Magna. À partida não sou grande especialista nem conheço de cor quer um quer outro, e à chegada a diferença também não foi muita. Cada um deles: Grande Bomba! (estamos sempre a aprender!)

Os Beastie Boys são um trio de nova iorquinos brancos esticadinhos com ascendência judia e ligações aos bairros de Brooklyn e Manhattan. Do que andei a investigar, descobri (entre outros, aqui e acolá) que os Beastie Boys começaram por ser, em 1981, um quarteto. Só em 1984 o grupo passou ao trio dos dias de hoje, quando o Adrock se juntou a MCA e a Mike D. Ao álbum Paul's Boutique, de 1989, os estudiosos aplicam o rótulo de "charneira" ou "breakthrough": deixaram de ser white wanna be rappers. De inspiração funk, o álbum recheia-se de loops, funky beats, scratches e samples. Estes últimos, os samples (sons, frases, trechos de outras músicas reciclados, das mais diferentes formas e feitios, e posto dentro de um nova música), foram em Paul's Boutique uma inovação e o pontapé de saída para tudo o que viria a ser feito sobre o hip-pop. (e lá está, sempre a aprender!) Esta coisa dos samples deve ter muito que se lhe diga. Para começar torna as músicas mesmo divertidas. Ainda há pouco, numa das músicas que estava a ouvir do Paul's Boutique, cruzei-me com um bocado de um programa de rádio, depois foi o Johnny Cash!
Uma breve procura no Google devolve-nos uma pilha de atitudes associadas aos Beastie Boys: hip hop, rock, punk rock, mcing, funk, jazz e responsabiliza-os por serem os precursores de coisas estranhas como o Rapcore ou o nu metal. (e de novo sempre a aprender!)
Bom, e posto isto parece-me que os Beastie Boys são mesmo a Pangeia dos sons novos que se ouvem!

O espaço da Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa é um espaço muito especial. Pequeno, caseirinho, com uma audiência que se espraia para o palco numa forma que, aposto eu, encantará os próprios artistas. O espectáculo de ontem chamava-se Gala Event – Exclusive Instrumental Show, antecipando o álbum instrumental que os Beastie Boys vão lançar em breve.
Ali dentro daquela sala juntaram-se e aconchegaram-se as emoções de cada espectador, que foram crescendo à medida que também os Boys se punham à vontade e trocavam brincadeiras de puto entre eles. Foi muito bem disposta a sua atitude para com o público e os VIP's, sentados nos cadeirões dos reitores. Trocaram-se bengalas, piropos, danças e até um verso rapado por uma menina da audiência teve resposta espontânea pelo Dj de serviço. A conversa daninha que surgia entre os três durante o intrevalo entre as músicas poupou-nos à habitual fita dos encores. E foi um fartote de rir assistir àquela desconversa entre os três, sobre que música iam tocar no final. O Adrock disse a duas ou três que não, essa não sabia. E lá acabaram de microfone em punho a dialogar enquanto o senhor das teclas subiu para o seu instrumento e se pôs a tocar com os pés (sim, calçado!) - depois partiu o microfone e ainda bem que não houve mais nada a seguir, não fossem partir-se braços ou pernas.

Vamos esperar para ver aqui o que vão os Boys dizer da sua experiência na Aula Magna.
E entretanto o The Mix-Up que "spits hot fire" sai já-já no próximo 26.

Sabotage
Ill Communication, 1994

do então desconhecido Spike Jonze

28 maio 2007

Afoito Berlioz

27.05.07, Coliseu dos Recreios, LisboaEla andava intrigada com esta questão já há coisa de duas ou três semanas. Na verdade, aqueles bonitos sons podiam até ter aparecido antes, não sabia precisar ao certo porque no início mal dava por eles. Depois prestou-lhes alguma atenção mas a cada noite que passava o agrado crescia e agora o gosto era maior, agora ela encantava-se com aquilo. Ficava parada estendida no chão até sentir, por todo o seu corpo, a vibração dos suspiros chegados naquele som, depois esticava ora o pescoço ora a cauda que ondulavam ao ritmo da música e, no final, deixava-se enrolar pelo prazer de um calor sobre as suas escamas. Era um prazer que desconhecia poder chegar-lhe assim, tão bravio, vindo do ar, no meio do escuro.
Ah, mas esta noite ela vai atrever-se. Vai. Vai sair daquela nesga onde se recolhe mal o sol se põe. Vai ver que príncipe é afinal capaz de tal habilidade. Vai talvez com ele casar ou, se não puder, de amor por ele vai morrer.

E seu dito, seu feito, a lagartixa Afoita Tixa subiu esta noite ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para assistir a uma sinfonia fantástica de Berlioz, a terceira peça do programa apresentado pela Orquestra Sinfónica de Londres.
Depois da emoção do concerto em sol para um singelo piano de Ravel, interpretado por Javier Perianes, que lhe provocou uma série de tremeliques, foi só graças ao intervalo que recuperou a tempo de se ir colocar sobre o estrado do maestro. Antes do começo ainda um violinista a enxotou de lá com o seu arco, a meio ainda ela se afastou para melhor ver aquele príncipe-artista condutor, em pleno crescendo da sinfonia ainda ela se atreveu a subir pela perna de um violoncelista (que sem perder a postura, e com alguma doçura, a sacudiu logo que pode). Da última vez que a vi tinha, depois de outra tentativa frustrada em subir para o colo de um músico, parado no degrau das harpas. Talvez dali conseguisse ver bem o seu príncipe-artista, o seu animal mímico de batuta em punho. Talvez o maestro Daniel Harding tenha dedicado o encore à Afoita Tixa, a tenha vindo cumprimentar depois e quem sabe se lhe deu um beijo desencantador e a transformou numa linda princesa, com quem casou e com que já vive feliz há muito e muito anos.

Ora imagine então quem quiser as condições em que vivia a Afoita Tixa nas nesgas bolorentas do palco do Coliseu dos Recreios. Imagine quem quiser o que esconde aquela alcatifa vermelha descolada nas pontas, o que está sob aquele chão de madeira pintado a tinta gasta ou atrás do aglomerado de madeira riscada a esfarelar. E imaginem também as conversas da noite entre os músicos e as conversas que vão levar para casa (e lembro-me agora das que trouxemos de África).
Eu calculo, e ponho as minhas mãos no lume, em como a Afoita Tixa aprecia a sala do Coliseu e a música que nela se faz com mais gosto e estima do que os engenheiros que desta sala deviam cuidar.

18 maio 2007

5ª.feira de Espiga, S.G. sem espinhas

17.05.07 No Maria Matos, até Domingo 20, Sérgio Godinho (em) ligação directa. Se recomendo? Corram já à bilheteira, leiam o post depois.

A minha mãe deve-se ter fartado de ouvir o Godinho enquanto estava grávida de mim, depois deve-me ter embalado ao som do Godinho e depois ainda, quando me achou crescidinha, deu-me para a mão o LP Duplo Era uma vez um rapaz e ensinou-me a mexer no gira-discos, com jeitinho olha que risca. Hoje em dia partilhamos entre nós a custódia dos CD's (se não todos, quase todos) do SG, se grandes bulhas mas com alguma negociação.

A experiência que é assistir a cada concerto do Godinho e seus novos Godões tem um quê do que me parecer ser ao que se chama milagre. Ontem ouviram-se as prometidas 25 músicas, umas quantas do novo álbum Ligação Directa, outras quantas sem o serem.

Mas de um músico com tantos anos de carreira e para este meu ouvido viciado em Godinho, de “antigo” ali nada se ouviu. Tudo me soou a novo! Tudo batido em claras, numa única e impecável surpresa que só a sábia generosidade do Godinho pode dar às suas músicas quando as deixa serem inspiradas pelo dom do Nuno Rafael e o trabalho daquela empenhada equipa. Músicas antigas, mais antigas do que eu e daquelas que conheci antes mesmo de nascer, foram postas a demolhar num caldeirão do elixir da juventude e ficaram, outra vez, muito bem neste seu novo visual. Num repertório com mais intervenção do que romance, com um gomo de tangerina ritmado por um teclado numa antiga máquina de escrever, com um homem fantasma apresentado por coro alentejano, com um relógio de cuco na casa onde alguém vai dar devagar.

E todos os créditos para: Nuno Rafael, pensador, nas guitarras, toca também máquina de escrever; Miguel Fevereiro em ainda mais guitarras; João Cabrita, um resistente dos habituais três assessores de Godinho, nos sopros e alguns coros; João Cardoso no piano, teclados e muito animação; Sara Côrte-Real no coro, teclado, percussão e a afiar a espada do velho samurai; Nuno Espírito Santo, o mais alto, fica no baixo; Sérgio Nascimento, um animal da percussão, numa bateria híbrida de batida portuguesa traz puros o seco som do tambor e o solto som da pandeireta; Godinho na batuta, sempre em plena ascensão!

ui, foto não autorizada