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31 dezembro 2007

Até que...



... até que a gravidade os separe.

Resistissem mais os compromissos como este paramento resiste ao Tempo,
cumprissem-se mais as promessas como esta cantaria cumpre segurar o vão,
prevalecessem mais as intenções como este muro prevalece de pé,
e tivessem as Palavras mais força que, por certo, o Mundo giraria de outra forma, de outra forma melhor!

... um Próspero Ano de 2oo8!!

20 dezembro 2007

Um Natal sem prendas

Fosse este um Natal sem prendas e eu…
… teria andado pelas ruas a gozar o frio azul destes dias gelados e a olhar para as montras das lojas de ferramentas porque preciso de substituir não interessa o quê lá em casa,
… teria andado a caminho da Segurança Social de mãos vazias dos sacos coloridos com embrulhos-ai‑cuidado-que-se-partem,
… teria quitado da minha cabeça as listas de compras onde dou comigo a hierarquizar o amor‑em‑forma‑de‑matéria que nutro por cada amigo e familiar e, pior do que isso, dou comigo a atribuir preços a cada uma destas pessoas consoante o apreço que lhes tenho,
… teria escapado às enchentes de gente nas ruas e nos centros comerciais, ao trânsito e à luta por um lugar de estacionamento, e teria, portanto, fugido do rasto de consumismo sem travões e do rasto de sonsice sem medida que se apega, e se pega, às gentes nesta altura do ano,
… e no entanto, teria jantado e almoçado com uma família bem disposta, de boca adoçada pelas iguarias únicas da época,
… teria, como sempre, marcado encontro com os amigos mais amigos aproveitando a disponibilidade que a época gera nas nossas cabeças,
… e teria sido devorada por um cândido espírito Natalício que, por uma rara vez, me deixaria a pensar que Natal, afinal, pode não ser sempre a mesma treta!

Não me parece que este viesse a ser um Natal triste, bem antes pelo contrário, tem sido um encanto de Natal. Para mim, largar por completo o Natal com prendas foi tão bom quanto levantar de vez o rabo afundado na cadeira da função pública.
Mas tenham cuidado com esta doutrina do Natal sem prendas, ela vicia-nos o espírito e faz-nos olhar à volta... digamos que de outra maneira.
Bom, agora tenho é de me preocupar em distribuir com primor este meu amor menos canónico, mas franco, por todos os amigos e família (... e seus rebentos a caminho!!).

02 dezembro 2007

Maçã de Junho

“Bêbado ou sóbrio, ele canta sempre bem” – disse a fã encantada à saída do Coliseu para o microfone que lhe era estendido por uma TV qualquer que ontem pôs no ar esta original opinião.
Não aguento ouvir o palavreado papagueado destas pequenas cabeças.

É por causa disto, e de todos os istos e aquilos que surgem sempre que de ti, Jorge, se fala ou a ti, Jorge, ouvimos cantar, que já não vou ver-te tocar ao vivo faz tempo.

Mas regala-me ter barriga cheia de cenas e sons da altura em que descobri que o Bairro do Amor se podia ver ao vivo e nas cores dos lápis que o pintavam, ali no Ritz Club até às 3 da manhã ou mais, não fosse haver teste da Faculdade dali a poucas horas. Daí a descobrir que aquele Bairro era uma célula da Terra do Amor, foi um gosto!
Vi que o mundo pára só para te ouvir com o piano, com a guitarra e para te ver a sacudir o cabelo, a fazer subir um ombro, a levantar o pé para depois fazer bater o calcanhar. Muito.
Hoje guardo tudo isto aqui algures, cá atrás do meu pulmão esquerdo. Em cima. E oiço-te quando me apetece com o esforço do primir de um botão.

Há três anos atrás aventurei-me a ir até ao Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. Tentei. Ouvi. Esperei. Mas não funcionou. Os piropos não tinham mudado e daquela vez até se juntaram alguns comentários cegos-e-surdos incapazes de compreender, ou de aceitar, que tivesses tido a intenção de apresentar o teu último álbum tocando-o pela ordem tal qual está no CD. Pequenas cabeças de palavras papagueadas. Porque é que têm de ser assim?

O.k., tiro a mão do queixo e não penso mais nisto, pá!

27 novembro 2007

Zumbido!

Num site ultra-secreto (clicai sobre a imagem acima) vende-se máquina fotográfica com super poderes.
De um zumbido poderoso, grandes olhares, corpo cheio de prata esta bomba só pode ser o novo amor do Harry Potter de Vila Nova da Rabona. Será que até tira bicas?

Convido-vos a mergulharem bem fundo na Descrição e nas Especificações, venham depois à tona tomar fôlego para uma nova imersão. E divirtam-se, desatem esta confusão até chegar ao que estaria escrito no inglês original

Deixo aqui o link da versão original.

11 setembro 2007

Búzios

Para recolher pontos nas tabelas de audiências no caso da pequena Maddie parece-me que já só falta lançarem-se, ao vivo e em directo e de preferência com tambores a rufar, os búzios!

Consigo bem imaginar, num serão televisivo, o pivot a levantar-se da sua cadeira colocada entre os prós e os contras e, de microfone em punho, dirigir-se à primeira fila da sua plateia com o mesmo ar seguro e orgulhoso de um aluno chamado ao quadro depois de um serão passado a estudar a lição.

Consigo bem imaginar uma velha gorda e preta com umas patilhas de carapinha mal semeadas queixada abaixo e um olho a apontar para o infinito por causa de uma catarata avançada. Está sentada a ocupar duas cadeiras da plateia. O cabelo e o torso (o resto do corpo imagino que não esteja a ser filmado) estão escondidos em lenços atados com ráfias polvilhadas de missangas coloridas e brilhantes. Enfeita-se com colares e pulseiras onde se penduram guizos, crinas e dentes (não imaginaria tão bem que alguém se lembrasse de pendurar ao peito um crânio humano, mas lá está ele, pequenino, com lugar de destaque no colar de entre por um olho e sai pelo outro).

Depois imagino igualmente bem que o pivot agradeça a presença do convidado que acabado de chegar, até vem quase do outro lado do mundo, num esforço a que só a gravidade do caso obriga. Vai tecer-lhe uns elogios dando aos telespectadores crédito pelo seu precioso trabalho, faz uma pergunta, dá logo a respectiva resposta e feita que está a cama lá pergunta: Diga-me que foi que aconteceu à Maddie?
Sem responder, pelo punho da manga esquerda a velha gorda vai puxar por uma ponta de um pano retorcido como uma tripa. Puxa tudo até ao fim e, juntando as duas extremidades, sacode aquele intestino. Ouvem-se os guizos dos colares e das pulseiras, chocalha o crânio pendurado mas mesmo assim se adivinha que os búzios se baralham. Revira os olhos e beija o pano. No seu espaçoso colo, a lançadora pousa o pano e deixa que ele se desdobre por si só. Os búzios mostram-se, rebolam e baloiçam até que se aconchegam à topografia própria daquele regaço. Perante tal invulgar arrumação das peças espantam-se Os Prós com “Ooh” de Ora-toma-lá e se espantam Os Contras com “Aah” de Eu-bem-te-disse.

Baralhado fica também o pivot que retoma a pergunta O que foi que aconteceu à Maddie?. Pela primeira vez o microfone na sua mão faz soar pelo anfiteatro uma voz seca e áspera como um carapau aberto a secar ao sol. Apontando o olho bom para a cara do jornalista, a velha disse em tom cúmplice: Num posso dizê o qui aconteceu. É sigredo di justiça.

Fácil de imaginar!

Porque é que não somos nós capazes de deixar o Tempo demorar o seu tempo?
Estamos nesta vida cada vez mais impacientes. Queremos tudo, tudo rápido, tudo já e nem sabemos esperar com calma pelos próximos episódios. Esperemos e logo se verá como foi que poisaram os búzios. Certo é que a nossa pressa não apressa o tempo do Tempo.

25 julho 2007

Eduardo e Mariana

Domingo de Julho
Praia de São Pedro de Moel, Marinha Grande

Os Bancos devem estar cheios de dinheiro e de ousadia mas vazios de valores ou de vergonha.

Vêm já de há algum tempo estas marteladas sobre as nossas cabecinhas com anúncios dos Bancos apelando ao crédito (crédito embrulhado em papel pardo ou de lustro, crédito em caixa de cartão ou latas em forma de coração, credito para usar e deitar fora, crédito de estimação...). Nota-se bem o exagero na TV e na Rádio, principalmente à hora dos noticiários. Sai um, entra outro, espreita um terceiro e prepara-se o quarto. Bora lá, endividem-se!

Nas duas últimas semanas temos ouvido na TSF um anúncio especialmente mau.
O mais espirituoso-e-santíssimo dos bancos lembrou-se de fazer um spot publicitário para um crédito à habitação que deve ser especial sei lá porque que carga d'água. Um desgraçado, infeliz e miserável rapaz, o Eduardo, sentado no seu sofá, apregoa que estava para ali a não fazer nada e sem sequer pensar fosse no que fosse quando se lembrou de arranjar uma forma para também não pensar na Prestação da sua casa. Decidiu ir ao banco (ao espirituoso-e-santíssimo, claro) que lhe tratou logo de tudo o que é impresso e chatice e trabalho e acção.
Assim, o Eduardo volta, desgraçado, infeliz e miserável, ao seu sofá para descansar e, orgulhosamente, dedicar-se a "não pensar em ab‑solu‑tamen‑te mais nada".

Para temperar esta mixórdia, esta segunda-feira que passou juntou-se ao jovem Eduardo a menina Mariana. Ela já não tem um camuflado sotaque do norte, é de um estilo mais moderno, mais rufia mais "inapágandideia!". Mas é cá uma menina das nossas, igualmente desgraçada, infeliz e miserável, igualmente sentada num sofá, igualmente ocupada a "fazer menos do mesmo hi-hi-hi!".

Ai, tem mesmo de me sair um Dasse, como é que isto é possível? Se eu ainda tivesse a minha conta naquele espirituoso-e-santíssimo banco ia já lá cancelá-la (outra vez). Com um anúncio assim, aposto que os funcionários do balcão também devem gostar de, e devem mesmo ser incentivados a, nada pensar e nada fazer.

Força Portugal, vamos andando que para a frente é que é o nosso caminho!

16 maio 2007

A matemática nunca foi tão simples

É, a matemática nunca foi tão simples principalmente quando é abreviada, sem rigor, por quem dela pouco ou nada percebe.
Durante toda a semana passada, na TSF (pelo menos) passou um anúncio a qualquer coisa, nem sei bem a quê. É um diálogo entre uma senhora e um senhor. A senhora, de voz muito feliz, começa por perguntar ao senhor se ele conhece a nova fórmula das viagens. Não diz ele, com voz menos alegre mas de entoação muito moderna. Então, estás a ver a do Einstein? (como se o Einstein só tivesse uma fórmula!). O senhor assusta-se (aich!) Que complicado. E ela, num exercício de lógica, Não é, se e = mc² então a = mt³. O senhor fica baralhado e ela continua na lógica: porque a é de Avis, m é de milha e 3 é de triplicar! Ah!, fez-se luz no senhor, então a Avis está a dar milhas a triplicar! Pois no aluguer de não-sei-quantos carros ganhas milhas a triplicar no teu cartão-de-não-sei-quê. E ele suspira Realmente a matemática nunca foi tão simples.
Ui, com isto até Einstein deve ter ficado com o bigode arrepiado.
Que a seja de Avis e m de milha, ainda vá que não vá. (se bem que a pode ser de área ou de amor e e m de metro ou de melga). Agora, um simples 3 é um 3, e do que mais é depende de como se arruma e de outros sinais próximos de si, que também pertencem ao reino da matemática: pode ser 3 de dividir por 3, 3 de somar 3, 3 de subtrair 3, também pode ser 3 de multiplicar por 3... mas aquele 3 é ainda outro, é um expoente, é um t de TAP multiplicado por si 3 vezes seguidas.

Esta segunda-feira de manhã (também pelo menos) o anúncio já estava diferente e a fórmula da Avis em vez de TAP elevado a 3 propunha TAP vezes três. Finalmente correcto, mas sem relação que se veja com a fórmula do Einstein. Juro que não fui eu, talvez tenha sido um cliente Avis que quis milhas ao cubo em vez de milhas a triplicar. Mesmo assim demorou uma semana e ainda o tempo de idealizar o anúncio e ainda o tempo de o realizar para um monte de macacos dar com a complexidade da matemática.

25 abril 2007

33 x 25 de Abril

250407,Restauradores, Lisboa E falou na Assembleia o presidente da nossa República. Falou para os “jovens”, ou melhor, falou sobre os “jovens de hoje” para quem o 25 de Abril não devolverá à memória sentimentos de uma vida passada sem liberdade, os “jovens de hoje” para quem estas celebrações repetidas ano após ano não têm significado nem serão capazes de despertar valores de pertença de si próprios à Liberdade que se festeja. O presidente afirma, em guisa de conclusão, que há que modernizar o “modelo das comemorações” para encantar os "jovens de hoje". Não quero estar agora aqui a dizer que isto é um disparate, até porque não se espera (?) que o presidente da nossa república diga disparates, mas parece-me que o senhor se engana. Primeiro, não é justo dizer que é aos “jovens de hoje” que as celebrações do 25 de Abril não trazem significado, ou não provocam emoções. Não provocará para alguns jovens como não provocará para outros menos jovens, agora não entendo é o que tem a idade que ver com isto? E de que significado fala ele? Terá com certeza um significado, um outro significado, não é legítimo querer que seja o mesmo para o pai e para o filho. E, o segundo engano, as manifestações intencionais, as de convicção, que a cada ano comemoram mais um aniversário sobre o 25 de Abril de ’74 têm de, e devem e só podem, ser feitas pelos que viveram aquele dia, e devem ser feitas da forma que esses escolham. E se são feitas sempre da mesma maneira pois que o sejam então, e que sejam durante muitos anos enquanto forem todos vivos. A juventude sub 33 terá oportunidade de se manifestar e de celebrar à sua maneira as conquistas que ela própria fizer. É certo, talvez não faça muitas, talvez viva acomodada a uma facilidade de existência que sempre conheceu.
Hoje, 25 de Abril, pela Avenida desceram sindicalistas de microfone sem pilhas e voz rouca aos soluços. Iam acompanhados por um coro de meia dúzia de pessoas-pingadas com olheiras cansadas, cravo arrebitado na lapela, enfiado no decote, preso no cabelo, seguravam cartazes de frases que se gastassem de cada vez que eram ditas, hoje nem se leriam e nem se ouviriam. Rufaram tambores, dançaram campinos, haviam um flautista e tossiram os espectadores por causa das sementes das árvores da avenida.
Hoje, 25 de Abril, inaugurou-se o túnel do Marquês. Humm, será que já estamos a modernizar as celebrações? Porque não modernizamos também as celebrações do Natal?
Mas nem política nem meteorologia se querem temas fortes deste Respigo. Tenho dito.