31 dezembro 2007

Até que...



... até que a gravidade os separe.

Resistissem mais os compromissos como este paramento resiste ao Tempo,
cumprissem-se mais as promessas como esta cantaria cumpre segurar o vão,
prevalecessem mais as intenções como este muro prevalece de pé,
e tivessem as Palavras mais força que, por certo, o Mundo giraria de outra forma, de outra forma melhor!

... um Próspero Ano de 2oo8!!

20 dezembro 2007

Um Natal sem prendas

Fosse este um Natal sem prendas e eu…
… teria andado pelas ruas a gozar o frio azul destes dias gelados e a olhar para as montras das lojas de ferramentas porque preciso de substituir não interessa o quê lá em casa,
… teria andado a caminho da Segurança Social de mãos vazias dos sacos coloridos com embrulhos-ai‑cuidado-que-se-partem,
… teria quitado da minha cabeça as listas de compras onde dou comigo a hierarquizar o amor‑em‑forma‑de‑matéria que nutro por cada amigo e familiar e, pior do que isso, dou comigo a atribuir preços a cada uma destas pessoas consoante o apreço que lhes tenho,
… teria escapado às enchentes de gente nas ruas e nos centros comerciais, ao trânsito e à luta por um lugar de estacionamento, e teria, portanto, fugido do rasto de consumismo sem travões e do rasto de sonsice sem medida que se apega, e se pega, às gentes nesta altura do ano,
… e no entanto, teria jantado e almoçado com uma família bem disposta, de boca adoçada pelas iguarias únicas da época,
… teria, como sempre, marcado encontro com os amigos mais amigos aproveitando a disponibilidade que a época gera nas nossas cabeças,
… e teria sido devorada por um cândido espírito Natalício que, por uma rara vez, me deixaria a pensar que Natal, afinal, pode não ser sempre a mesma treta!

Não me parece que este viesse a ser um Natal triste, bem antes pelo contrário, tem sido um encanto de Natal. Para mim, largar por completo o Natal com prendas foi tão bom quanto levantar de vez o rabo afundado na cadeira da função pública.
Mas tenham cuidado com esta doutrina do Natal sem prendas, ela vicia-nos o espírito e faz-nos olhar à volta... digamos que de outra maneira.
Bom, agora tenho é de me preocupar em distribuir com primor este meu amor menos canónico, mas franco, por todos os amigos e família (... e seus rebentos a caminho!!).

10 dezembro 2007

Mas Qual Teima?

Eles são dias de céu mesmo-azul e ar mesmo-fresco. São o Cabo Sardão com cegonhas e o Alentejo que até lá nos leva, são o rio Douro, o Mondego, o Tejo e o Sabôr, são estuários de Norte a Sul. São um pires de arroz doce acabadinho de fazer, são açúcar queimado em caramelo, são uma caixinha com uma dúzia dos conventuais Celestes e, já que estamos na altura, são azevias de grão de bico. São uma bica bem tirada, são verdadeiras morcelas de arroz com grelos, são bacalhau cozido com suave banho de azeite, são um robalo escalado. São vinho verde leve do gás, são vinho do Dão espesso da força, são um Raízes tinto do Ribatejo. São um muro acabado de caiar, são azulejos a revestir uma igreja, são calçada de calcário, são beirados com ninhos. São barros de Barcelos, oiros de Viana, festas de Campo Maior, estrelícias dos Açores. São cerejas, são morangos, são figos, Figos e Moutinhos e Cristianos e Vanessas e Naides e Telmas. São garranos no prado, são castro-laboreiros e serras-da-estrela. São inteligentes vias verdes e mb nets e declarações online, mesmo as do IRS. São raros Cornucópias e Ballets Gulbenkians e planos Bês e Bzs e Sinais. São quentes cobertores de papa e grossas mantas de Minde, cestos de vime com pão caseiro de Moitas Vendas que se vai ensopando numa sopa de nabo. Eles são todas estas coisas que, de entre tantas outras, só nós temos e das quais só nós conseguimos gostar assim tão-tanto-tão!

Mais palavras para quê? Os Clã são do melhor do português! Deles já só se espera o Tudo e ainda assim aqueles 5 Artistas conseguem rebentar as nossas espectativas!

O Concerto quinta-feira passada na Aula Magna foi uma bomba, toma lá, sem espinhas, sem teimas, a todo o gás!

02 dezembro 2007

Maçã de Junho

“Bêbado ou sóbrio, ele canta sempre bem” – disse a fã encantada à saída do Coliseu para o microfone que lhe era estendido por uma TV qualquer que ontem pôs no ar esta original opinião.
Não aguento ouvir o palavreado papagueado destas pequenas cabeças.

É por causa disto, e de todos os istos e aquilos que surgem sempre que de ti, Jorge, se fala ou a ti, Jorge, ouvimos cantar, que já não vou ver-te tocar ao vivo faz tempo.

Mas regala-me ter barriga cheia de cenas e sons da altura em que descobri que o Bairro do Amor se podia ver ao vivo e nas cores dos lápis que o pintavam, ali no Ritz Club até às 3 da manhã ou mais, não fosse haver teste da Faculdade dali a poucas horas. Daí a descobrir que aquele Bairro era uma célula da Terra do Amor, foi um gosto!
Vi que o mundo pára só para te ouvir com o piano, com a guitarra e para te ver a sacudir o cabelo, a fazer subir um ombro, a levantar o pé para depois fazer bater o calcanhar. Muito.
Hoje guardo tudo isto aqui algures, cá atrás do meu pulmão esquerdo. Em cima. E oiço-te quando me apetece com o esforço do primir de um botão.

Há três anos atrás aventurei-me a ir até ao Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. Tentei. Ouvi. Esperei. Mas não funcionou. Os piropos não tinham mudado e daquela vez até se juntaram alguns comentários cegos-e-surdos incapazes de compreender, ou de aceitar, que tivesses tido a intenção de apresentar o teu último álbum tocando-o pela ordem tal qual está no CD. Pequenas cabeças de palavras papagueadas. Porque é que têm de ser assim?

O.k., tiro a mão do queixo e não penso mais nisto, pá!

27 novembro 2007

Zumbido!

Num site ultra-secreto (clicai sobre a imagem acima) vende-se máquina fotográfica com super poderes.
De um zumbido poderoso, grandes olhares, corpo cheio de prata esta bomba só pode ser o novo amor do Harry Potter de Vila Nova da Rabona. Será que até tira bicas?

Convido-vos a mergulharem bem fundo na Descrição e nas Especificações, venham depois à tona tomar fôlego para uma nova imersão. E divirtam-se, desatem esta confusão até chegar ao que estaria escrito no inglês original

Deixo aqui o link da versão original.

01 novembro 2007

"O Construtor Solness"

http://www.teatro-cornucopia.pt/htmls/conteudos/EEuEZkyEZuzyogOkco.shtml

O Construtor Solness, de Henrik Ibsen, 1892
encenação de Carlos Aladro,
pelo Teatro da Cornucópia, 2007

Bem sei que as representações estão mesmo no fim e é à vontade que aposto que todos os leitores deste blog já foram espreitar os artistas da Cornucópia (parece-me que 93% deles foram juntos!). Mesmo assim, sem o propósito de convencer vivalma, sem o propósito de partilhar uma experiência única aos que não terão ido e sem a intenção de vir para aqui, mais uma vez, despejar uma carrada de elogios àqueles senhores, sinto que tenho de escrever mais um post sobre o trabalho que eles fazem ou, melhor, sobre o que sinto quando assisto ao resultado do trabalho que eles fazem.

A vida ocupada que tenho tido (nota-se!) levou-me desta vez à plateia do Teatro do Bairro Alto sem ter lido quase nada sobre a peça. Do dramaturgo, o norueguês Ibsen das barbas engraçadas, já tinha gostado muito da Casa da Boneca, pela Companhia Teatral do Chiado, que vi há uns anos (ui há 3? Já?!!).

Mas deste Construtor eu pouco mais sabia para além do que o título sugere e do que lera algures sobre uma jovem (Beatriz Batarda) que havia de aparecer na vida de Solness (Luís Miguel Cintra) para lhe cobrar uma promessa que este lhe fizera há 10 exactos anos.

Não sei se terá sido por esta ausência de pistas; se por ter esperado, durante duas semanas, que chegasse o dia da nossa ida (e não é que naquele Domingo acordei excitadíssima com o programa para a matiné).

A verdade é que logo que a peça começou eu fui por ela engolida. Engolida, engolida. Fui parar à pança daquele ogre comilão de boca grande assim que o velho e doente Knut Brovik fecha a porta da sala de trabalho para poder falar com o construtor Solness em particular. Senti-me, de repente, impelida a me levantar, a sair dali porque era só o que faltava ficar a escutar aquela conversa que ele queria privada. A tempo me lembrei que estava "apenas" na assistência e deixei-me ficar sentada quietinha, aceitando ser parte da digestão daquele ogre. Lá fui enrolada para trás e para frente,

(por um enredo realista ou fantástico? por verdades ou mentiras? por um Solness duro ou terno? um Solness Deus ou Solness suicída? por uma Hilde infantil ou sábia? por uma crítica ao confronto de gerações ou à tristeza da vida burguesa? Ai e tantos pares mais houve que nem sei se é justo deixar estes aqui escritos)

lá fui vítima daqueles sucos gástricos que me tiraram os habituais super-poderes de espectador, nunca me deixando, nunca sequer me deixando tentar, antecipar-me à acção. O raio dos sucos fizeram-me acreditar que o que estava a ver não era um enredo: era um É Mesmo A Sério.

No fim, nas vénias que aqueles artistas-mágicos faziam ao som das palmas teimosas da assistência, procurei de imediato a cara da Teresa Sobral e suspirei quando a vi sorrir e me acalmei por ela não ser só a Aline Solness, mãe sem filhos ou mulher sem bonecas? que vivia há uma dúzia de anos mais triste e mais morta e que alguém já enterrado.

Finalmente o ogre cuspiu-me. Devolveu-me à Terra mas deixou-me cair do alto e ainda demorei uma noite inteira a recuperar desta experiência brutal.

De ver e chorar por mais bilhetes que já não há!

12 outubro 2007

É oficial: tenho telemóvel!

Riam-se entre dentes ou à descarada, batam com a mão na testa, deixem tremer de pasmo a vossa caudinha diabólica. Chorem, rebolem escarlates, trepem ao telhado do maior arranha-céus de Sacavém. Surpreendam-se ou repreendam-me: Toma lá, vês? Um dia havia de chegar. Também tu és uma comum mortal! Ou em alternativa: bocejem e não leiam o post.

E foi mesmo, o dia chegou. Chegou há cerca de um mês atrás quando esta minha vida deu um nó de escota difícil de gerir não fosse esta coisa que agora me acompanha tal cão de estimação, tal medalha de fio de oiro herdada, tal pulseira do São Salvador da Baía. Chegou o dia em que deixou de me ser suficiente parasitar o telemóvel Nokia do Quico ao ritmo de dois ou três minutos por mês. Depois de um período à experiência, deixei-me de tretas e assumi a relação com o telemóvel. Bagh!

Mas o raio do bicho tem que se lhe diga. Tomar conta dele não é coisa fácil e, com a minha idade, responsabilidades delgadinhas como esta custam a tornarem-se hábitos.
Tem sido uma aprendizagem esforçada:
- agora tenho mais um artigo a não esquecer quando se saio casa e que vem esticar ao limite a capacidade dos bolsos de calças ou casacos;
- tenho também mais número secreto a memorizar (e estou à espera do dia em que vou insistir com este PIN numa caixa Multibanco);
- o bicho precisa de ficar acorrentado à electricidade dia-sim, dia-não e, quando em fins-de-semana fora, até precisar de um necessaire para levar o seu carregador (ca betinho!);
- gasta mais aos cem que o próprio UMM;
- ainda hoje ando a tentar memorizar o seu tom de voz para consiguir reagir atempadamente ao seu chamamento (e arre que não vou lá! É ouvi-lo tocar, tocar, tocar, cada vez mais alto, cada vez em tom mais agudo, cada vez mais desesperado enquanto o vibrador se sobrepõe à melodia e lhe dá um agressividade de animal rugindo aos pares e ameaçando trincar-me assim que carregar no Aceitar. E enquanto isto dura eu abro pelo menos 50 fechos de 50 algibeiras num casaco ou mochila que só tem dois bolsos!!)
- quanto a controlar o tom de voz de chamamento das SMS, disso já desisti mesmo. Estou farta de procurar mas este bicho não tem um apito dos normalizados e nunca, nunca oiço um SMS a chegar;
- o que mais me demorou a descobrir, e aprendi-o às custas de falhar recados importantes, foi que o bicho precisa de estar ao pé das janelas a apanhar ar e a entreter-se com quem passa lá em baixo. É que esta casa não tem rede no seu interior, é casa-à-prova-de-bruxas;
- outra coisa que demorou foi encontrar as SMS que guardava para mais tarde enviar. (Já sabem? Este bicho arruma as Mensagens Guardadas na pasta das Mensagens Enviadas, na sub-pasta das Não Enviadas!);
- também deixei de poder fazer a piadinha de dizer, perante um telemóvel que apita, "este não é o meu". Aliás, no outro dia tentei armar a gracinha mas foi-se a ver e era mesmo o meu!,
- e no meio disto tudo lá vou aprendendo esta forma de comunicar ao estilo do "mando um toque" e do "depois ligo-te para combinar que te ligarei mais tarde para combinar mesmo";

Claro que este bicho foi-me dado (a minha loucura não vai tão longe). Era quase-refugo de generosa alma possuidora de um bisneto de outra moderna geração tecnológica. Foi assim que me calhou um Alcatel que tecla "SIM" onde o Nokia teclava "ESCAPE", que "ABORTA" onde o outro "CONFIRMAVA" e que assim me tirou do sério, me fez perder horas a tentar mandar SMS, me fez "desistir" de chamadas que queria atender, me levou a apagar contactos que queria guardar e me fez bater com a cabeça duas vezes em sinais de trânsito e chocar outra meia dúzia delas com transeuntes.

É verdade que o bicho tem vantagens, mas ainda estou convencida que usufruem delas mais os outros do que eu.
O pior, ou o mais triste, é que este Alcatel sabe muito pouco do nosso querido português. Não tem acentos ´, ` ou ^ (excepção feita ao "à"), nem tem ~~ sobre os AA. Vale-me que tenha um N com ~, não vá eu precisar para añunciar o dia do meu cumpleaños.
O melhor é que basta carregar em três teclas para fazer o bicho calar-se até que me apeteça!

Mal o oiço, poucas vezes o trago comigo, menos lhe carrego a bateria e do saldo nem vos conto. Em resumo: não me liguem, é mais seguro mandarem um mail!

Riam-se, tremam a cauda, chorem, rebolem, surpreendam-se mas reparem que à conta do telemóvel e desta vida de comum mortal o Respigo desbotou!

11 setembro 2007

Búzios

Para recolher pontos nas tabelas de audiências no caso da pequena Maddie parece-me que já só falta lançarem-se, ao vivo e em directo e de preferência com tambores a rufar, os búzios!

Consigo bem imaginar, num serão televisivo, o pivot a levantar-se da sua cadeira colocada entre os prós e os contras e, de microfone em punho, dirigir-se à primeira fila da sua plateia com o mesmo ar seguro e orgulhoso de um aluno chamado ao quadro depois de um serão passado a estudar a lição.

Consigo bem imaginar uma velha gorda e preta com umas patilhas de carapinha mal semeadas queixada abaixo e um olho a apontar para o infinito por causa de uma catarata avançada. Está sentada a ocupar duas cadeiras da plateia. O cabelo e o torso (o resto do corpo imagino que não esteja a ser filmado) estão escondidos em lenços atados com ráfias polvilhadas de missangas coloridas e brilhantes. Enfeita-se com colares e pulseiras onde se penduram guizos, crinas e dentes (não imaginaria tão bem que alguém se lembrasse de pendurar ao peito um crânio humano, mas lá está ele, pequenino, com lugar de destaque no colar de entre por um olho e sai pelo outro).

Depois imagino igualmente bem que o pivot agradeça a presença do convidado que acabado de chegar, até vem quase do outro lado do mundo, num esforço a que só a gravidade do caso obriga. Vai tecer-lhe uns elogios dando aos telespectadores crédito pelo seu precioso trabalho, faz uma pergunta, dá logo a respectiva resposta e feita que está a cama lá pergunta: Diga-me que foi que aconteceu à Maddie?
Sem responder, pelo punho da manga esquerda a velha gorda vai puxar por uma ponta de um pano retorcido como uma tripa. Puxa tudo até ao fim e, juntando as duas extremidades, sacode aquele intestino. Ouvem-se os guizos dos colares e das pulseiras, chocalha o crânio pendurado mas mesmo assim se adivinha que os búzios se baralham. Revira os olhos e beija o pano. No seu espaçoso colo, a lançadora pousa o pano e deixa que ele se desdobre por si só. Os búzios mostram-se, rebolam e baloiçam até que se aconchegam à topografia própria daquele regaço. Perante tal invulgar arrumação das peças espantam-se Os Prós com “Ooh” de Ora-toma-lá e se espantam Os Contras com “Aah” de Eu-bem-te-disse.

Baralhado fica também o pivot que retoma a pergunta O que foi que aconteceu à Maddie?. Pela primeira vez o microfone na sua mão faz soar pelo anfiteatro uma voz seca e áspera como um carapau aberto a secar ao sol. Apontando o olho bom para a cara do jornalista, a velha disse em tom cúmplice: Num posso dizê o qui aconteceu. É sigredo di justiça.

Fácil de imaginar!

Porque é que não somos nós capazes de deixar o Tempo demorar o seu tempo?
Estamos nesta vida cada vez mais impacientes. Queremos tudo, tudo rápido, tudo já e nem sabemos esperar com calma pelos próximos episódios. Esperemos e logo se verá como foi que poisaram os búzios. Certo é que a nossa pressa não apressa o tempo do Tempo.

30 agosto 2007

O mais ágil

http://www.wcsn.com/article/news.jsp?ymd=

Donald Thomas (1984), Bahamas
Mundiais de Ateletismo, Osaka 2007

Finalmente ao quinto dia plantei-me em frente à televisão e vi toda a jornada dos mundiais de atletismo de Osaka.
Calhou-me o concurso que escolhe o mais ágil de todos os atletas: o salto em altura. É um concurso muito emocionante de se assistir, com o seu estilo roda-bota-fora que vai excluindo uns e dando oportunidades sucessivas aos que em três tentativas conseguem saltar sobre a fasquia poisada cada vez mais alta. E foi assim que, depois de apenas plantada, cheguei mesmo a ganhar raízes sentada ali no sofá.

O cubano Victor Moya era uma séria esperança para ficar entre os 3 primeiros, em parte por ser conterrâneo do saltador Javier Sotomayor (o atleta que mais próximo do céu chegou saltando a partir da Terra quando, em 1993, superou a fasquia colocada aos 2,45m). Nos mundiais de Helsínquia, em 2005, foi Victor Moya quem conquistou meia medalha de prata. Mas hoje falhou, por 3 fatais vezes, o salto a 2,33 e nem chegou a ver os degraus do pódio.

A outra metade dessa mesma medalha ganha na Finlândia foi parar ao peito do Russo, Yaroslav Ribakov, que hoje se empenhou e fez uma muito melhor prestação tendo guardado a medalha de prata inteirinha só para só para si.

O sueco Sthefan Holm era, mais do que candidato a uma das medalhas, candidato ao próprio título. Sthefan Holm é um veterano de 31 anos de idade que nunca conquistou medalhas de ouro em mundiais de atletismo (pobre coitado, pode gabar-se apenas do primeiro lugar nos Olímpicos de Atenas e outros primeiros em pista coberta). Para além destas razões que, quanto a mim seriam bem mais que suficientes para um homem ser reconhecido com a primeira das medalhas em mundiais, o sueco estava a fazer um concurso limpinho. Tendo prescindindo do primeiro salto, superava à primeira a fasquia que ia subindo: 2,21; 2,26; 2,30; 2,33. Mas depois: 2,35; 2,35; 2,35 foram 3 tentativas e 3 derrubes desta fasquia que lhe valeram um 4º. frustrado lugar. Será que para o ano há mais?

A medalha de bronze foi para o jovem cipriota Kyriakos Ioannou que superou os 2,35 à segunda tentativa, que depois se espalhou redondo no 2,37 mas que, ainda assim, bateu por duas vezes o record nacional que estabeleceu ele próprio ainda no início deste ano de 2007.

E eis que aparece aos saltos Donald Thomas. Jovem com os mesmos 23 anos de idade que o cipriota, Donald Thomas vem das Bahamas mas vem também do basquetebol. Enquanto que o cipriota anda em campeonatos de salto em altura desde os seus 17 anos, Donald Thomas iniciou-se nisto apenas o ano passado.
Reza o que já é uma lenda que tudo começou com uma aposta entre amigos num café, depois de uma partida de basquete. Dois meses depois desta aposta, Donald Thomas conquistava o 4º. lugar nos jogos da British Commonwealth em Melbourne (calçado de ténis de basquete porque ainda não tinha tido tempo para se habituar aos pitons das sapatilhas de salto em altura).
E hoje, em Osaka, 18 curtos meses depois de Melbourne, Donald Thomas ganha o ouro. Limpinho!

Quando saltou, logo à primeira, os 2,35m Donald Thomas mais que truques de magia exibiu-nos quase-milagres. Podem ver o salto aqui, clicando na linha escrita a azul no topo direito da fotografia; ou aqui seleccionando "Wednesday 29 Aug", "Evening", "Men High Jump Final" (ufa!).
Reparem como primeiro suspendeu o tempo enquanto impulsionava o seu corpo (dei por isso claramente pelo bater lento do coração, pelo silêncio em que a rua ficou).
Depois mandou vir uma parede invisível ao longo da qual trepou para ganhar altura (num estilo um tanto ou quanto estranho para esta disciplina de atletismo porque enquanto sobe dá às pernas como se corresse ou se pedalasse numa bicicleta).
E por fim, mandou parar por instantes a força da gravidade enquanto se esticava para, com o corpo já deitado, se desviar da fasquia (eu, a televisão, o tapete levitámos também!). Nada mau, ein?

Bom, e agora que as minhas raízes vão mais fundas, aproveito para ficar aqui à espera dos Olímpicos de Pequim para ver se este Donald Thomas jovem-surpresa-mágico se continuará a revelar tão bom. A sua fasquia está alta. Tão alta quanto o incrível Sotomayor a deixou!

E para terminar, os parabéns se enviam aos atletas portugueses. A todos!

17 agosto 2007

Com as mãos na massa!

Como a malta sabe, a própria malta anda a rechear de lama a casa do Pedro e por isso tem tido pouco tempo para vir passear aos blogues dessa mesma malta.

Na véspera do terceiro workshop deixo algumas brevidades sobre o que têm sido estes dias passados a moldar a terra do local nos triângulos de madeira que formam a estrutura da casa.

Trabalhar com a terra misturada com areia e água é um prazer. Não há manuais, nem palestras, nem receitas milimetricas mas umas mãos interessadas num instante descobrem por si qual a mistura ideal de barro (com mais água para aqui, mais seco para ali, esta precisa de ser mais amassada) ou como rechear melhor cada triangulo (onde esborrachar, onde dedilhar, onde pressionar, onde dar palmadinhas, onde molhar). A tarefa destapa-nos um estranho "instinto-primário".
Esta tem sido uma aventura partilhada por vários voluntários. Alguns deles são amigos, outros amigos de amigos, outros são família, outros são interessados completamente espontâneos. Tudo "gente de escritóri" capaz de trocar um Sábado estival por uma jorna nas obras! E a gente vai e a gente repete, mesmo a gente "espontânea" que carrega, inevitavelmente, uma motivação maior que todos!
Por mim, acho que nunca me senti tão próxima de um pássaro como enquanto me dedico com toda a paciência a calcar um triângulo com lama fresca que há-de ser parede, que há-de ser casa.

Temos assim passado uns belos dias e avaliando pelo que falta, e aqui que o Cliente-Pedro não me ouve, muitos belos outros se avizinham.

E agora vou dormir porque amanhã levanto-me com o pedreiro!

07 agosto 2007

Memória Bárbara


Deus existe?

No último post eu tinha acabado de chegar a um PC semi-público com o portátil às costas, os ombros descaídos, o cabelo no ar e a arrastar a cauda pelo chão. Depois de consultada a minha caixa de correio electrónico e de feito o gostinho ao dedo com a publicação do post, googlava então "pci.sys". Digo-vos com toda a franqueza: fi-lo por inspiração do post, por hábito em criar links para complementar a informação que transmito, não com esperança de ver o problema resolvido.
Verdade verdadinha é que a esperança, essa, tinha definhado há poucos minutos, depois da conversa com o tal "amigo" que mais não era do que um pálido conhecido de um verdadeiro amigo e ao mesmo tempo um sortudo contemplado com um CD do Windows XP. O ficheiro pci.sys parecia estar corrompido e a mensagem de erro dizia para voltar inserir o CD do Windows para que se procedesse à recuperação do sistema operativo. Várias vezes inserido o CD na drive, sistematicamente a mesma mensagem: "erro 4" nhã-nhã-nhã "o Windows não pode continuar". E do amigo Ah pois, assim é mais difícil se nem a drive colabora. Parece-me é que o disco já deu o badagaio (sempre é melhor dar isto do que dar o "peido mestre", como já ouvi ameaçar!). Estas coisas estragam-se. O melhor é tentares salvar os ficheiros. Pode ser que ainda dê. Pode ser que ainda se consiga aceder ao disco mas é preciso arranjar um adaptador (pareceu-me ser este um objecto raro, disponível só em Vénus ou Marte e talvez só a partir do ano de 2343). Daqui não há mais nada a fazer (ai!).

O horror, a tragédia, a desgraça, a catástrofe. É sentimento azedo ver morta uma coisa que não devia sequer ser pensada como sendo coisa-viva. Que dor no peito, na barriga, na alma. Todas elas moendo apenas e só o Desgraçado que tem os ficheiros lá dentro Mas que raio, porque é que o meu último back up é de há três anos, porque é que não tenho os Favoritos guardados na pen. E resigna-se este Desgraçado. Deixa-se convencer que com o tempo o esquecimento atenuará a dor e conforta-se no apoio das palavras ditas por aqueles que partilham este momento em directo e nas palavras escritas pelos que comentam o post que anuncia a desgraça.

Lamuriava-me assim sobre o meu triste fado quando o Google me devolve os resultados da busca. Em primeiro lugar propõe-me um link com ar sério proveniente da Microsoft support. Sintomas em Windows 2000: …, resolução para o Windows 2000:… Resolução? Olá-olá, será isto um pontinho luminoso que vejo ali ao fundo?
Refinei a minha pesquisa googlando o nome do ficheiro em conjunto com o sistema operativo correcto. Et voilá! Sintomas: mensagem de erro diz que o pci.sys está corrompido? (Sim diz…), uma vez inserida a consola de recuperação devolve "erro 4"? (SIM, DEVOLVE!) Resolução: desligue todas as coisas da net (não tenho nada disso ligado) e se o mal persistir (ai… sim? SIM?) retire cada slot de memória uma a uma, reiniciando o PC até descobrir qual é a ruim (Ah! É? Juram?). E o pontinho luminoso abriu o diafragma transformando-se num brutal foco que me envolveu com a sua luz divina, me vestiu de tule branco semeado de miosótis azuis e perfumados, me fez saírem estrelinhas da testa que soaram prilimpimpim e, acho que não exagero se disser que o foco de luz, até me fez levitar o rabo da cadeira. Ao fundo, comecei a ouvir a Barbra Streisand no seu Memory.
Iluminada, saquei o portátil mesmo ali. Enquanto desaparafusava a tampa, atrás da qual se arrumam as memórias, as minhas mãos tremiam (stress? excitação? Ná! Tremiam porque, como não tinha ali ao pé nem uma micro chave-de-cruz, nem o meu canivete suíço, nem a mala do Sport Billy. Eu estava a realizar aquela operação com um jeitoso molhinho de 3 agrafos – ou acham que eu ia esperar por chegar a casa para ver se o truque funcionava, ã?). Tirei logo a primeira memória que me apareceu à frente. Sabia que era uma extensão (instalada há 4 anos) da memória original. Voltei a aparafusar (ou agrafar) a tampa. Inspirei fundo, evoquei os Deuses, chamei à atenção e à concentração de todos os presentes e carreguei no ON. Esperei que o XP arrancasse. Arrancou. Esperei que chegasse ao fim. Chegou. Esperei que o Desktop se escancarasse à minha frente. Esperei. Esperei. Esperei. E apareceu. Tudo. Estava lá tudo bem desarrumadinho, tal como tinha deixado na sexta-feira de manhã.

Respigo agora a partir de casa, com um Pentium III a 746 MHz e 128 (sim, cento e vinte e oito) MB de RAM. É um terço do que tinha a semana passada. Não é que esteja "lento". Saibam que agora trabalho com o livro que ando a ler aqui ao lado do portátil e dei-lhe um valente avanço hoje! Para além ter de me conformar com este ritmo de trabalho, uma nova luta se avizinha: arranjar memória compatível com esta brava máquina, mais velha do que as coisas que se vendem pelas lojas da capital. Vamos a ver. Até lá darei um pouco de sossego ao Respigo, para que todos nós nos recomponhamos das maleitas (estou com medo que o processador "derreta" que é expressão ouvida algures!).

Se Deus existe? Ora se Dele se diz que está sempre presente e que tudo ouve e tudo vê e tudo sabe. Ora então parece-me fácil a resposta. Deus existe sim, e está neste no mundo terreno sob forma de Internet sempre presente, sempre vendo, sempre sabendo.

Se há milagres? Porque é que não há-de haver? Afinal se uma excepção fatal faz estragar-se o pci.sys porque é que não haverá uma também excepção, benigna desta vez, que resolva o problema. E é esta a mensagem divina que aqui vos deixo: antes de desesperar e formatar… inspirem fundo, ide à net, confiem e se for o caso liguem-me!

Ontem fomos ao cinema, partir o coco a rir com the Simpons, Movie. O meu coco gostou muito de se partir, mesmo ainda mal refeito que estava dos pedacinhos em que em que vivera disperso estes últimos dias.
Só não fui a tempo de jogar no EuroMilhões, mas já o fiz hoje, quem sabe se iluminada pela estrelinha de ontem.

06 agosto 2007

pci.sys

Na sexta passada foi-se o pci.sys.
Primeiro foi o terror: boca seca e transpiração estratégica (seria dos 40º graus que bafejavam Santarém?). Depois foi o desespero: estática de mão no queixo a olhar para aquela caixa (lembrou-me o ET embrulhadinho num pano plástico). Seguiu-se o vazio: o fim-de-semana inteirinho a sentir-me amputada -não sem mãos nem sem braços, mas sem conseguir alcançar todo o mundo onde estes dedos tocam quando me sento a um teclado. E depois foi a ressaca: afinal como, nos dias de hoje, se entretém a alma com coisas palpáveis?Certo certo é que o meu Windows foi vítima de um temível QCSP.
Hoje, segunda-feira, telefonei para a Toshiba: aconselharam-me a "falar com um amigo" (simpática, ein?!). Levei o portátil ao amigo: disse-me que o meu leitor de CD’s não estava a conseguir ler (desalfabetizou!) o CD do Windows e que assim sendo, nada feito para já. “Impossível de reparar” (ui!), “desmontar tirar o disco para arranjar forma da salvar os ficheiros” (aich!), o disco deve ter atingido o limite de idade de vida (aaaahh!).
De momento estou a bordo de um PC público (ou quase). Vim à net ver os mailes, satisfazer o vício do Blogue e, já agora, porque não tentar recolher ter pistas sobre este problema. Não, não acredito em milagres mas por isso mesmo também não amocho já, só por ter “dado o badagaio” a um tal ficheiro pci.sys.
Vamos ver quando volta o Respigo!

02 agosto 2007

Poema ao banco

Outro Domingo Balnear
Praia de São Pedro de Moel, Marinha Grande

Bancos há muitos, para todos os gostos, e nem sempre são daqueles que fazem publicidade lastimável para as suas ofertas de negócio não menos nocivas.

Na pequena São Pedro de Moel, que vive de Verão a euforia tosca que hibernou durante todo o Inverno, não há nenhuma agência bancária!
Foi por isso uma surpresa encontrar este banco onde nem o turístico Verão, nem a depressão do Inverno conseguiram chegar. O banco tem a cara pintada mas pela maneira como está polida aresta do seu assento dir-se-ia que é quase tão velho como o mar que mira ou vá lá como a árvore que o sombreia.
Sobre o banco, pendurado na copa da árvore, um artista apaixonado e inspirado (talvez o senhor à sombra) pintou numa tábua as rimas que aqui transcrevo, não vá a dar-vos a preguiça ou venha a hipermetropia dizer que não se lê nada pá!:

Ó banco do descanso/Ó banco do reformado/Aqui se fala o presente/Aqui se fala o passado
Ó banco bem colocado/Debaixo desta ramagem/Senta-te e mira bem/Esta bonita paisagemÓ banco de azul pintado/Que queres tu imitar/Não há pincel que consiga/Dar-te o tom do azul do mar
Ó banco se tu falasses/Tinhas muito que dizer/Se alguém te perguntar/Nunca queiras responder

Soube também que a única caixa de Multibanco de São Pedro foi de férias, aproveitando, pelo menos, este mês de Julho. Deixou um papel riscado a esferográfica a dizer Fora de Serviço e foi ver o pôr-do-sol. Fez ela muito bem!


29 julho 2007

então brindemos: à tua!

Rabirruivo Preto
Phoenicurus ochruros


Esta Primavera, quando entrámos na pequena adega do Casal dos Barros para acordar o vinho por já serem horas de o engarrafar, surpreendemos um Rabirruivo que atrapalhado acabou por escapar porta, ou fresta, fora.

Entretanto esquecido o incidente, foi com espanto que lá para o fim deste mês de Junho primeiro se suspeitou e depois se confirmou a existência de um ninho de Rabirruivo posto e já chocado numa das prateleiras daquele espaço. Vedado o local, o uso ficou interditado a humanos e canídeos e abriu-se um pequeno postigo junto ao tecto que logo foi adoptado como boca de cena pelos dois protagonistas da acção.

Foi à conta disto que precipitei o fim das férias Dentro do Mapa para conseguir apanhar lugar no último Domingo de representações. E foi um gosto! Foi um fim de tarde sentada, entalada debaixo das mesas do pátio, a ver, de nariz no ar como num espectáculo de Robertos, os papás Rabirruivos atarefados. O enredo era simples. Cada um à sua vez, papá e mamã, apareciam aos saltos sobre os telhados com bico carregado de insectos. Verificavam as condições do lugar (às vezes olhavam a assistência que pensava estar invisível debaixo da mesa). Depois pousavam à beira da boca de cena, sacudiam o rabo ruivo como nós faríamos para compor a indumentária antes de um encontro de cerimónia e desapareciam pelo fundo escuro do cenário. Dois segundos: lá de dentro chegava um ruído besourado e assanhado, breve como o som de uma garrafa de água com gás enquanto se desenrosca lento a tampa. A avaliar pelo chinfrim deviam ser crias de pulmões bem desenvolvidos e papo difícil de satisfazer. De bico cheio calavam-se os besouros e lá partia o progenitor para uma nova caçada num círculo de sai e regressa-com-insectos-no-bico em sessões contínuas que duraram mais do que a minha persistência de gente que tinha também um jantar para preparar.

A meio dessa semana deixaram de se ouvir as crias e de se ver os papás na sua lufa-lufa. A missão estava cumprida! E o ninho ainda voou para as mãos pequeninas e os olhos arregalados das crianças do infantário.


O Rabirruivo Preto é um passarinho de rabo ruivo, quase-todo-preto e fácil de avistar e de reconhecer. Fácil de avistar porque, apesar de preferir zonas rochosas ou escarpas, tem vindo a atrever-se a explorar cidades e, sendo assim, num jardim calmo e atento diria eu que é muito provável vê-lo passar. E fácil de reconhecer porque como a sua cauda ruiva não há outra que tão bem se destaque do breu das suas outras penas, principalmente quando a abre, qual leque incandescente, para se lançar em voo. Outra marca distinta do Rabirruivo, característica do macho a partir do segundo Outono da sua vida, é a fina pincelada a branco na extremidade das suas asas escuras. A fêmea é menos colorida, mais pardacenta e salpicada de castanhos, à semelhança dos juvenis (machos e fêmeas) durante o seu primeiro ano de vida. Bico e patas pretos, os olhos também pretos têm um debruado pontilhado que os espevita.

O Rabirruivo tem uma pose muito singela, uma postura vertical muito distinta que também nos pode ajudar a saber que é ele que ali vai. Apesar de ser uma ave pequena, de uns 14cm, é espadaúdo com peito empinado e o bico preto afilado completa o que será justo chamar de uma “silhueta elegante”.
É um tímido solitário, que nos controla com ar sério do alto de um muro ou de cima um telhado. Controla-nos a nós e a algum inimigo, porque este também é um amiguinho territorial ainda que menos violento que o outro. Também saltita pelo chão à procura de insectos ou larvas, e faz a habilidade de voar “na vertical” para apanhar bicharada nos orifícios de uma parede, de uma muralha tal osga, tal cabra montesa, tal homem aranha.
Enquanto pensa na vida, o Rabirruivo sacode a cauda e faz uns tic-tic-tic. Mas quando lhe chega a mostarda ao bico dá “estalinhos com a boca” uns guturais tack-tack plásticos quase impossível de imaginar que provenham de tal passarito. Na época do namoro, lá canta que se desalma e depois dança que se destripa antes dos factos devidos.

Na sua versão original, o ninho do Rabirruivo ocupa buracos ou frestas em rochas. Na sua versão urbana, o ninho é qualquer coisa que com aquele outro se pareça, aproveitando buracos ou cavidades em ruínas, nichos em arrecadações ou garagens ou assente algures debaixo de telha. É um ninho simples, mais “poisado” que “edificado”, feito de ervas secas, casquinhas e folhas ou musgos que depois se atapeta com cabelos, penas e outros finos fios. Entre os meses de Abril e Junho podem fazer duas posturas, cada uma em seu ninho montados próximos entre si. Construir o ninho, pôr os ovos e chocá-los são tarefas exclusivas da fêmea. O macho partilha a faina da alimentação das crias que vão sair do ninho antes de saberem voar, aprendendo esta arte em treinos arriscadíssimos já no solo, camuflados entres pedras e ervas durante uma longa dúzia de dias.

Em Portugal, o Rabirruivo está presente durante todo o ano faça chuva ou faça sol. Mas, por exemplo, já ali em França ou mais ainda pela Europa acima ele é uma personagem migradora que vem passar o Inverno cá no sul da Europa ou até ao Norte de África. Parece que na península Ibérica até temos uma subespécie só nossa: o Phoenicurus ochruros aterrimus, da qual sei apenas que tem na pancita uma plumagem mais clara. (Também cá temos o Rabirruivo-de-testa-branca, o Phoenicurus phoenicurus, mas esse é outra espécie com quem nunca me cruzei e que terá de ficar para outra altura.)



Para terminar a apresentação dos resultados desta investigação, vou ter de falar, mais uma vez, do amor britânico pelas aves que, mesmo já sabendo que são gente que até tem uma ave nacional (o nosso amigo Pisco que é o deles amigo Robin) não deixaram de me voltar a surpreender.
Acabo de descobrir que o Black Redstart (reparem por onde começam os pássaros britânicos…) é propósito q.b. para condicionar os planos de reabilitação e intervenção do espaço urbano envolvente ao Tamisa.
O Black Redstart é também conhecido pelo "bomb site bird" ou "power stations bird" (nomes brutos para um pequenote) porque usa os sítios escalavrados pelos bombardeamentos para se abrigar ou nidificar. A preocupação britânica, mais especificamente em Londres e Birmingham onde é considerado uma ave pouco comum, surge nos dias de hoje em que este habitat natural-urbano tem vindo a desaparecer, vítima das reformulações do território urbano. Numa tentativa de reduzir o impacto destas na população do Black Redstart, a London Biodiversity Partnership’s criou o BLACK REDSTART Action Plan e a Black Redstarts.org. E entre planos de acções e as próprias acções foram estudados “brown roofs” (derivados dos "green roofs"). Querem ser qualquer coisa como “telhados vivos”, como se o edifício ao ser erguido tivesse levantado com ele o pedaço do terreno em que assenta. São construídos com terra do lugar e bem ao gosto de um Black Redstar! Já foram experimentados no Creekside Education Center ou no Laban Dance Center dos suiços Herzog & De Meuron. Que God save o Black Redstart!


Depois de espreitado um pouco dos hábitos do Rabirruivo, regressamos num instante ao episódio no Casal dos Barros (agora é que é, estou mesmo quase a acabar).
Para começar, esclarece-se que o Rabirruivo surpreendido no dia do engarrafamento do vinho era então uma fêmea em prospecções para a montagem ninho.
De seguida, pelas cores da fêmea da fotografia e sobretudo pelas que vi serem as do macho (um tom escuro ainda pouco preto-preto), atrevo-me a informar-vos que o casal que se apropriou da prateleira da adega dos Barros seria um casal jovem, provavelmente no seu primeiro ano de reprodução. Jovens mas não tontos ou não teriam escolhido um lugar tão tranquilo, ideal para garantir que, após a saída do ninho dariam à sua prole as primeiras lições de voo em solo protegido. E ainda um lugar farto de matéria-prima para a “fase de acabamentos” do ninho como sejam os pêlos e pelinhos do canídeo, rei do terreno "do lado de fora da adega"!
Fazendo umas breves contas, quem sabe se no Domingo do espectáculo as crias não estavam já fora do ninho, em hora de brunch num intervalo entre as aulas de voo? Bom, se movidas com a energia de insectinhos papados, que venham eles, e que venham mais!

Será que voltarão no próximo ano?

Para me redimir de não ter (ainda) uma foto decentemente focada de um Rabirruivo com o preto das penas mesmo preto-preto, e sobretudo para que encontrem a silhueta elegante que apregoei ao início deste texto, deixo-vos este link que vos levará pelo Flickr até várias fotografias do Phoenicurus ochruros em Portugal, e ainda este, do Oiseaux.net, com fotos e mais informação.

E se entretanto forem capazes de descobrir um Rabirruivo, avisem!

25 julho 2007

Eduardo e Mariana

Domingo de Julho
Praia de São Pedro de Moel, Marinha Grande

Os Bancos devem estar cheios de dinheiro e de ousadia mas vazios de valores ou de vergonha.

Vêm já de há algum tempo estas marteladas sobre as nossas cabecinhas com anúncios dos Bancos apelando ao crédito (crédito embrulhado em papel pardo ou de lustro, crédito em caixa de cartão ou latas em forma de coração, credito para usar e deitar fora, crédito de estimação...). Nota-se bem o exagero na TV e na Rádio, principalmente à hora dos noticiários. Sai um, entra outro, espreita um terceiro e prepara-se o quarto. Bora lá, endividem-se!

Nas duas últimas semanas temos ouvido na TSF um anúncio especialmente mau.
O mais espirituoso-e-santíssimo dos bancos lembrou-se de fazer um spot publicitário para um crédito à habitação que deve ser especial sei lá porque que carga d'água. Um desgraçado, infeliz e miserável rapaz, o Eduardo, sentado no seu sofá, apregoa que estava para ali a não fazer nada e sem sequer pensar fosse no que fosse quando se lembrou de arranjar uma forma para também não pensar na Prestação da sua casa. Decidiu ir ao banco (ao espirituoso-e-santíssimo, claro) que lhe tratou logo de tudo o que é impresso e chatice e trabalho e acção.
Assim, o Eduardo volta, desgraçado, infeliz e miserável, ao seu sofá para descansar e, orgulhosamente, dedicar-se a "não pensar em ab‑solu‑tamen‑te mais nada".

Para temperar esta mixórdia, esta segunda-feira que passou juntou-se ao jovem Eduardo a menina Mariana. Ela já não tem um camuflado sotaque do norte, é de um estilo mais moderno, mais rufia mais "inapágandideia!". Mas é cá uma menina das nossas, igualmente desgraçada, infeliz e miserável, igualmente sentada num sofá, igualmente ocupada a "fazer menos do mesmo hi-hi-hi!".

Ai, tem mesmo de me sair um Dasse, como é que isto é possível? Se eu ainda tivesse a minha conta naquele espirituoso-e-santíssimo banco ia já lá cancelá-la (outra vez). Com um anúncio assim, aposto que os funcionários do balcão também devem gostar de, e devem mesmo ser incentivados a, nada pensar e nada fazer.

Força Portugal, vamos andando que para a frente é que é o nosso caminho!

21 julho 2007

Mastro Matrix

Na passada quinta-feira fomos até ao anfiteatro ao ar livre junto ao edifício principal da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa, para aí assistirmos a um número de "novo circo" na disciplina do mastro chinês, uma variável de acrobacia ao trapézio, à corda, ou ao chão. É um prumo vertical, com cerca de seis metros de altura, onde o artista mostra as suas habilidades, quer aos espectadores, quer à senhora força da gravidade. Este número chama-se Contigo.

João Paulo Pereira dos Santos é o acrobata. Começou pela Capoeira, foi aluno do Chapitô, depois seguiu para França para a École Nationale de Cirque em Rosny e de seguida para o Centre Nationale des Arts du Cirque em Chalon. (deixo os links das escolas para alguém em busca do que fazer para o próximo ano lectivo!). E nestas andanças ganhou o gosto e depois o destaque no mastro chinês. Em 2004 fundou a companhia O Último Momento com o músico Guillaume Dutrieux. O Contigo é a sua segunda produção, a primeira foi (Peut-être) logo em 2004.
João Paulo Pereira dos Santos é também videasta autodidacta, autor de umas dezenas de vídeos com principal destaque para "Voar" (encomendado pela S.A.C.D. para um festival de circo e teatro de rua, o Furies) sobre um tal de Ícaro que sobe a num mastro, interpretado pelo próprio acrobata.

Rui Horta é o coreógrafo. Começou por estudar dança na tão-mas-tão-mas-tão saudosa companhia do Ballet Gulbenkian. Dançarino, professor, coreógrafo pelo mundo fora regressou a Portugal em 2000 para criar e hoje dirigir O Espaço do Tempo, um centro de artes transdisciplinares, em Montemor-o-Novo, promotor e anfitrião de experiências de arte do espectáculo.

Logo no início do nosso Contigo ouvi o mastro dizer com secura ao marinheiro: Não consegues, não consegues! O que o mastro não sabia era que este marinheiro também é acrobata e sem hesitar, num rigor de milímetros mas sem qualquer travo metálico de estilo robot, o marinheiro fez do mastro o que bem entendeu. Saltou, trepou, subiu, equilibrou-se, sentou-se, dançou, escorregou, balançou, rodopiou, afrontando o mastro com a ajuda de uma música que se lhe colava aos movimentos. Sem falhar, sem corrigir mas sendo gente com expressão e encanto. Entre tudo isto, o marinheiro executou (eu nem sei se vi bem mas pareceu-me mesmo que executou...) um salto mortal para trás a partir e para o meio do mastro (não, não fez um salto do topo do mastro, foi a meio do mastro). Por três vezes caiu-me o estômago ao chão.

Em suma? Qual Neo qual agent Smith, o João Paulo dos Santos mostrou o que é desafiar a senhora gravidade e o senhor tempo sem recorrer a efeitos especiais, pelo menos daqueles conseguidos por computador. Foi de longe melhor, muito melhor que o Matrix! Vale uma grande salva de palmas, daquelas que se dão aos verdadeiros artístas de circo.

Há tempo (desde o tão-mas-tão-mas-tão saudoso Ballet Gulbenkian) que não saía destes espectáculos de "habilidades com o corpo" com vontade de me fazer mexer imitando os artistas. Finalmente senti-o esta noite e achei que podia libertar a energia latejante saltando ao eixo num "frade" (aqueles pinázios anti-carro) que me apareceu logo ali no passeio (logo é mesmo logo quando gente e mais gente saía ainda do anfiteatro). Confesso-vos que afinal o “frade” era apenas um apoio daquelas fitas que se desenrolam para controlar o acesso a lugares e fiz uma triste figura quando, depois de um salto à parva, o terminei sem arte, com o “frade” arrancado ao chão, e a menina dos bilhetes a levar a mão à boca. Bem, pude vingar-me a caminho de casa trepando pelos sinais de trânsito. Não apareceu nenhum senhor polícia porque aquela hora devem estar a tomar café, mas ainda assim apareceu-me uma valente cãimbra. Enfim… são provas da qualidade superior deste espectáculo.

O Contigo estreou em França, em 2006 no Festival de Avignon e com grande sucesso. Em Fevereiro passado teve estreia portuguesa no CCB, em Junho esteve em Serralves. Com sorte ainda se poderá ver em digressão pelo mundo.
Em Scenes de cirque espreitem um pequeno vídeo e no site da S.A.C.D outras coisas.

16 julho 2007

A solo

Margem do Rio Febras
São Salvador de Briteiros, Guimarães

Tantos dias em lugares outros que não os meus, só eu sem outro ou outros meus e sem ter assim estado vez alguma. Deve portanto ter sido natural (apesar de ter sido coisa que me bateu à porta sem avisar) aquele período do começo da viagem em que estranhei o ritmo e me senti a esborrachar para me moldar a este novo estilo de Estar. Dá luta aturarmo-nos e cansa termos de tomar conta de nós próprios a cada minuto do dia, sobretudo em lugares desconhecidos com os seus hábitos próprios que sempre se demoram a revelar. Mas com calma lá vamos. Depois de apanharmos a passada apoderamo-nos dos lugares de uma forma ímpar, com a força e a fragilidade de sermos só um. E com o passar do tempo ficamos com a consciência bem lembrada de que para além de só um, somos mesmo, e apenas, só mais um.
Prestes a encontrar-me com gente amiga (em Vila Real) assomou-se uma saudade de ver chegar ao fim esta condição solitária, mas entretanto confortei-me pensando que a próxima é: assim que eu quiser! – ou será que senti esta saudade apenas por saber que estavam ali à frente uns braços abertos para me receber?

À partida de Lisboa trazia na mochila a pergunta: Para que me estou eu a meter nisto? Lá para meio caminho, lembrei-me dela e fui ver se já estava acompanhada de uma resposta. Nem uma resposta, nem sequer a pergunta. Mas no seu lugar encontrei outra interrogação: Como podia eu não ter vindo?

Tecto de uma bela massa à camponês
Cervejaria Martins, Guimarães

15 julho 2007

Iindo eu, indo eu...



Vaca-loira
Lucanus cervus

atentem nas asas papel-de-seda amarela
mal escondidas na ponta do corpo

A caminho da citânia de Briteiros, tendo iniciado o caminho há pouco e portanto cheia de fé e de genica, resolvi tomar um pequeno desvio de 800+800 metros para ir até Portuguediz. Esperava pelo menos desvendar o mistério de um nome daqueles no meio do mato.

Passei uma bonita ponte com-jeitinho-não-vá-ela-cair, feita só de pedras que se comprimiam entre as margens do Rio Febras (quem preferir pode tratá-lo pelo seu outro nome, Rio Várzea). Tentei adivinhar por onde estaria o caminho mas as ervas dominavam. Ajudaram-me umas fitas plásticas de vermelho e brancas, resíduos de uma prova de motas todo-o-terreno. De seguida meti um pé numa cova larga, afundei-me e as ervas ficaram num repente mais altas do que eu. Quando voltei a subir o buraco, as ervas continuavam a tapar-me a vista. Estiquei-me e nada mais que ervas. Uns passos à frente e para além das ervas: silvas! Levei a mão à cintura, apalpei um lado e depois outro… azar! não tinha trazido a catana. E a curiosidade sobre o que diz Portuguediz passou-me logo de moda. Voltei a descer orientada pelas fitas vermelhas e brancas, voltei a passar a ponte só de pedra só e passados uns metros dei de caras com um g’anda touro. Atravessava com tal ligeireza o caminho atapetado de folhas fofas de carvalho que algumas até pareciam empurrá-lo para cima. Era um escaravelhão de todo o tamanho com uma tal tenaz na fuça que mais fazia lembrar um verdadeiro par de cornos.

Em Portugal chamamos-lhe Vaca-Loira. Noutros países da Europa lembraram-se de Veado Escaravelho (Stag beetle) Veado Voador (Cerf-volant ou Ciervo Volante), Touro, ou Veado, dos Carvalhos (na Escandinávia), e como alternativa Galega um melodioso Escornaboi.
Nós, os portugueses, cambiámos o veado pela vaca e muito bem o fizemos porque, para além de não termos por cá grande fartura de veados, temos a típica vaca da região, a barrosã, com um par deles tal-qual estes. Mas porque raio fomos nós chamar Loira a este escaravelho-vaca é que ainda não consegui entender.

O Lucanus cervus é mesmo um dos maiores escaravelhos da Europa e considerado o maior de Portugal. Tão grande que alguns machos chegam aos 8cm. Este que pude observar era, como vos disse, um touro! Sem querer exagerar (e porque para além da catana também não levava régua) diria que tinha pelo menos 7 cm! Habitam em matos e florestas e são uns ecológicos trabalhadores na reciclagem de árvores mortas.

Apesar de ser um bicho inconfundível, o Lucanus cervus leva uma vida afastada dos paparazzi e por isso poucas certezas há a seu respeito. Encontrei algumas disparidades em factos que deveriam ser concretos (pesos, medidas, anos) e assim sendo preferi, para fazer este post, usar os valores apresentados no Plano Sectorial da Rede Natura 2000, pelo INC em Janeiro de 2006 (ver referência do site no fim do post) ainda que não sejam resultado de estudos levados a cabo exclusivamente em Portugal.

Não sendo uma raridade este bichos são preciosos e é necessária alguma sorte para os ver assim, nesta fugaz fase da sua vida, armados de capacete cornudo. É que a Vaca-Loira tem um ciclo de vida especialmente desproporcionado e longo.
Filha de ovos entalados em frestas de troncos, cresce larva alimentando-se do que restará da árvore. São entre 1 a 7 anos de pura engorda. Num fim de Verão, a larva enterra-se e envolve-se num casulo. A pupa demora 6 semanas a transformar-se, mas fica escondida à espera do calor. Entre o fim de Maio e o Agosto de um mesmo ano, estes adultos depois de tanto terem marinarado, dão o tudo por tudo para se reproduzirem. Ao macho cumpre voar (aqui está uma boa foto do Vaca-Loira de asas abertas) em procura da fêmea e fá-lo geralmente ao fim do dia. Alimentam-se de sumo fruta (ou talvez de nada). Ambos têm pressa, muita pressa, porque passados estes 3 meses, e tendo ou não cumprido a sua incumbência, morrerão.
As hastes do macho servem para lutar contra outros machos. Matar ou morrer são acontecimentos possíveis mas muitas vezes a luta apenas serve para tirar o mais fraco do caminho (tronco abaixo, por exemplo). São também usadas para reter a fêmea durante o acto sexual (cuidado com os menores, papás!). As hastes da fêmea, com pouco destaque e aparentemente inofensivas, servem para morder e são venenosas.

Baralha-me este estilo de vida "descartável", como uma larva tantos anos cega que se transforma na mais bonita e alegre das crisálidas para morrer no instante de um sopro.
Acho que sei da existência de umas pessoas assim. Quer dizer, nenhum hominídeo aspira a rematar a sua testa com umas hastes destas, mas em vez disso alguns compram carros ou pagam músculos no ginásio para cativarem um parceiro sexual. Tal Vaca-Loira vivem só para isto durante o breve instante em que se esgota o fósforo da sua vida.
Despeço-me espantada como a natureza se deixa consumir assim, e enjoada de olhar para o cleóptero e suas antecessoras larvas.

O Lucanus cervus está incluído no anexo II da Directiva “Habitats” que agrupa o que foi considerado “ameaçado no território da União Europeia”.

Para este post recorri a vários sites. Os preferidos foram: ICN,Young People's Trust for the Environment,e o melhor para o fim, até porque depois descobrirão que este tem alma portuguesa! com destaque merecido para a criativa demonstração do ciclo de vida do Lucanus cervus.





Tão pintadinhas de fresco que ainda falta limpar as ervas
(pois, e fazer um mapa)

12 julho 2007

Citânia de Briteiros

Citânia de Briteiros

Poupo a vergonha de nunca ter ouvido falar deste lugar pelo facto de, entre a meia dúzia de gente a quem entretanto falei dele, apenas a minha avó o conhecer e ter mesmo lá estado. Na Freguesia de Briteiros de São Salvador, 15 km Norte de Guimarães, conserva-se no topo do monte de São Romão um bonito castro datado da Proto-História. Chama-se citânia de Briteiros e dela se diz ser uma das mais “expressivas” entre todos os castros característicos do Noroeste da Península Ibérica. Alguns estudiosos do lugar crêem que seja uma das mais antigas, com uma ocupação a remontar ao Neolítico Final (parece-me que uns 4mil anos a.C).

(Num instante esclareço que: as citânias são castros grandes, estabelecidos antes da ocupação romana; a Proto-História é um pomposo nome dado ao período da História que fica entre a Pré-História e a Antiguidade Clássica, arrumado desde o séc.XI a.C até o séc.I a.C. incluindo as Idades do Bronze e do Ferro).

Fica-se logo de olhos vidrados naquela paisagem sulcada a pequenos muros rectos ou circulares onde se sente que andou gente. Para além das vias bem desenhadas, algumas delas com um pequeno caneiro lateral, espantem-se com as habitações circulares e as suas antecâmaras, com a enorme Casa do Conselho (foto do fundo) com banquinho incluído, com o Balneário (em palavras de hoje chamar-lhe-íamos uma sauna, com banho de vapor quente e de seguida água fria) ou com as duas casas recuperadas por Francisco Sarmento (ler à frente) mas nem por isso do seu agrado. De estranhar será ver uma pequena capela cristã com um cemitério, que se pensam serem datados do séc. X ou XI.


Em 1875 e por iniciativa própria, o vimaranense Francisco Martins Sarmento (homem abastado e interessado, advogado de formação, poeta de coração, escritor frustrado e, finalmente, arqueólogo e fotógrafo por exclusão de partes) deu início a escavações arqueológicas neste lugar que há muito mostrava estranhas arrumações de granito. Uns anos depois, o Senhor Francisco já tinha comprado os terrenos e andava entusiasmadíssimo a exibir as suas descobertas aos estudiosos estrangeiros de então que se deslocaram em massa a Briteiros para observar estas descobertas e foram recebidos com banda musical e tudo.

Todos os frutos das suas investigações e escavações acabaram legados à Sociedade Martins Sarmento. Para além da Citânia (e de outras 1500 coisas de tamanho mais pequeno), são património desta sociedade dois Museus: o Museu Arqueológico Martins Sarmento e o Museu da Cultura Castreja.

O primeiro, no centro da cidade de Guimarães, ocupa parte do edifício-sede (projecto do famoso arquitecto do Porto Marques da Silva, datado de 1900) da própria Sociedade e vai acumulando vários objectos encontrados na citânia de Briteiros, noutros castros próximos e nalguns mais longe, como Almeirim! À guarda do Óscar, a exposição das peças maiores é feita nas traseiras da sede que roubam o espaço do bonito claustro da Igreja de São Domingos. Digamos que aqui os objectos estão um tanto ou quanto semeados pelo claustro, quem sabe se à espera que criem raízes e dêem frutos.

O outro museu, o da Cultura Castreja, ocupa o Solar da Ponte, antiga propriedade da família Sarmento. Fica já fora de Guimarães, em São Salvador de Briteiros. Aí se aprende sobre a vida do senhor Francisco, refez-se a sua escrivaninha, o seu laboratório fotográfico e dão-se a conhecer as curiosas (muito curiosas) missivas trocadas entre Martins Sarmento e Camilo Castelo Branco (que humor o daqueles dois, quando já mais velhos que velhos à beira da morte!). Na cave, repousa a mais famosa que formosa Pedra Formosa que uns dizem ter sido retirada de um balneário, outros de um mausoléu. Em em tempo também houve a versão de fazia parte de um altar de sacrifícios de animais (história ainda hoje impingida, com fé e emoção, pelo guia do Museu de Arqueologia). A tardoz do solar, estende-se uma vista para os terrenos ainda à espera de amanho.

Dois postos de Turismo de Guimarães agoiram como é difícil tomar autocarros para chegar a este Museu. Os mesmos dois postos de Turismo de Guimarães dizem que é fácil ir do Museu até à Citânia tomando o percurso pedestre de Pequena Rota (pr2 citânia), a ter início à porta do Museu. Eu tentei, um e outro. De autocarro cheguei sem espinhas. A pé é que nem por isso.
Não se fiem que aquilo é “fácil e com desníveis pouco acentuados”, nem se fiem neste minimal mapa, o único cedido nas brochuras do Turismo de Guimarães. Consciente da porcaria de mapa que tinha para me orientar, lembrei-me de fotografar, perto do Museu, o mapa do "outdoor" que já era melhorzito. Mas lá para o fim do percurso perdi-me mesmo em pleno mato e quando me apercebi disso achei que nem valia a pena voltar para trás, certa de que o caminho por onde eu ia havia de ir dar a algum lado. Não foi nada de grave. Passado um pouco avistei uns telhados, para onde me encaminhei e encontrei um café. Vermelha como um tomate, daqueles bem maduros que até já têm umas mossas, entrei e Boa Tarde, diga-me senhor isto aqui é Briteiros? Sim éie, mas aqui à bolta hái três Freguesias de Britéiros, há Beitéiros de Sãou Salbador, Britérios de Sãnta Leocádia e Britéiros de Sánto Estébão! Ai sim, e esta não é a de São Salvador pois não? Nãoe aqui éie Santo Estébão. Pronto 'tá bem, então e diga-me lá, para Guimarães onde é que apanho o autocarro? Para Guimarãeis é mesmo nesta estrada, póde apanhar na paragem ali para trás oue ali para a frente. Qual é mais próximo? Ai é igual menina, mas na paragem da frente o bilheite debe sair mais barato.

(Assim como assim vale mais espreitar com tranquilidade garantida umas habilidades das modernices da Internet nesta visita virtual.)


A casa do conselho e
uma das vias principais da citânia

09 julho 2007

e São João e São Pedro

O Balão do João
Ribeira do Douro, Porto

Por coincidência, o Dentro do Mapa poisou no Porto a 23 de Junho e em Vila Real a 28. São as noites mais populares para cada uma destas cidades: São João e São Pedro.

À chegada ao Porto revelaram-se surpresas: não havia mais quartos no hotel onde eu tinha pensado ficar nem em dois hotéis próximos; a Avenida dos Aliados não é tão grande como se ouve na rádio ou se vê na Tê Vê; e a melhor de todas (para mim também a maior) é que estava calor e o céu azul, sem nuvens naquela cidade, carago! Depois disto seguiu-se, também com surpresa, a minha primeira vez na noite de São João.
Que outra coisa poderia estar na origem de uma festa do povo para além de uma reconhecida e sincera homenagem do homem camponês ao poderoso Sol? Claro, só as imposições da Igreja tentando disfarçar estas manifestações espontâneas e pagãs. Assim sendo, a cidade do Porto tem variadíssimas proles de representações de amor a São João. De amor divino: igrejas, capelas, altares, azulejos, retábulos, estátuas. De amor mundano: pontes, hospitais, teatros, hotéis, escolas de enfermagem, palácios. E de amor popular, com direito a festa em dia especial: alhos-porros, manjericos, erva-cidreira, cascatas joaninas, balões, fogueiras, fogo-de-artifício e martelinhos na cabeça!
Na Ribeira, enquanto se espera com um Q de religioso pelo lançamento do fogo de artíficio, todos se dispõem a apanhar com martelos ensurdecedores na tola ou alhos-porros na fronha (que cheirinho!). É uma folia carinhosa e com uma curiosa afinidade entre todos bem mais forte da qualquer-coisa que leva os alfacinhas para a rua na noite de Santo António. E, não desfazendo da companhia da Senhora Dona Humbelina (para quem Portugal podia mesmo era acabar logo ali em Rio Maior, lá para baixo já não há mais nada que não haja aqui - sim, eu já lhe tinha dito de onde vinha), aposto em como entre amigos esta noite será ainda mais mágica.

Em Vila Real os festejos são mais estranhos, começando pelo facto de terem lugar na noite de São Pedro apesar do santo padroeiro da cidade ser o Santo António, que deve ficar pior que estragado com as cerimónias que os Vila Realenses fazem em honra do seu adversário directo. (E agora ocorre-me: o que faz então com que haja uma Vila Real de Santo António em pleno Algarve, ainda para mais tendo a Nossa Senhora da Encarnação como santa padroeira??!!)
Durante uma semana, a principal avenida da cidade de Vila Real, a Carvalho Araújo, fica fechada ao trânsito automóvel e abre goela ao engarrafamento pedonal de vendedores, consumidores, mistos, neutros ou cães. É a Feira de São Pedro, em tempos conhecida pelos seus pucarinhos de barro preto de Bisalhães (objectos agora em vias de extinção, desentendendo-se os velhos artesãos com os muito modernos [des]governadores do município). Nos dias de hoje, de artesanato vê-se pouco, o que está mesmo a dar é a Feira da Cueca e é hora de comprar o dito artigo para todo o ano!
À meia-noite, na passagem para o 29, marcam-se os festejos com o chamado Arraial, ou seja: lança-se fogo de artifício, sem bailarico, sem comes nem bebes, mas ao som de qualquer coisa. E a noite passa-se teimando, entre os locais e os visitantes, sobre o significado da palavra Arraial. Em Roma sê como os Romanos!

O Arraial do Pedro
Vale do Corgo, Vila Real

07 julho 2007

Botânico e Buçaco

Avenida das Tílias, Jardim Botânico
Coimbra

O Jardim Botânico em pleno centro da cidade de Coimbra e a Mata Nacional do Luso-Buçaco a uns 30 km, são lugares de melodia bucólica a minutos dos barulhos rosnados pela cidade.
No Jardim Botânico entra quem se passeie por Coimbra. À tristeza de um espaço que me pareceu pouco amado pelos seus responsáveis (a zona da Mata não estava acessível, a da Estufa também não, o Jardim Tropical idem e o mesmo para o Jardins das Ervas Aromáticas) sobrepôs-se a gritaria de um grupo de crianças e os berros dos professores que os tentavam domar.
À Mata do Buçaco não se chega em passagem para outro lugar, é preciso seguir até ao fim do caminho. Calculo que poucos leitores se metam num autocarro público para lá chegar mas afianço-vos que pode ser feito. Do terminal rodoviário de Coimbra partem uns 4 ou 5 buses por dia que nos podem deixar (e trazer de volta) no Luso ou no Buçaco, este a 3 empinados kms do primeiro. No entanto, antes de se aventurarem na Mata convém que estejam munidos de alguma informação sendo as mais importantes de todas: no Luso há Posto de Informação mas no Buçaco não; no Posto de Informação há um Mapa da Mata mas no Buçaco é que estão os caminhos.
Eu andei na Mata sem Mapa. Não é que a Mata dê propriamente para nos perdermos lá dentro. Ainda que sejam mais de 100 hectares, com calma e com alguma atenção conseguimos ter sempre a noção da nossa posição. De qualquer das formas outra gente não se avista, placas e setas não há e assim sendo um mapa fará jeito, pelo menos para sabermos por onde andámos e por onde ainda podemos andar, para sabermos o que estamos a ver, e para sabermos quão longe estamos da saída. E, acima de tudo, com um mapa na mão sempre se descansa a alma quando só temos disponíveis um par de horas para gerir todo o passeio antes da passagem do último bus para Coimbra! (e claro que depois o bus passou atrasado, tão atrasado que pensei se não teria já passado, se eu não me enganara no horário... enfim, sozinha na paragem, mas lá cheguei a Coimbra.)

Aqui deixo uma recolha de links para os que se metam num bus, ou para os que se metam noutra coisa qualquer e não possam apanhar aberto o conveniente Posto de Informação do Luso antes de se embrenharem na Mata.

O Site Oficial da Junta de Turismo Luso-Buçaco

Um site bem bom, o Asterisco, cheio de MAPAS! (assim até parece fácil!)




Mata Nacional do Buçaco

algures lá dentro e algures lá alto (se eu soubesse por onde andei dizia-vos)
à direita podem avistar o Palace Hotel do Buçaco onde eu teria ido dormir se me tivesse perdido na mata ou se na mata eu tivesse perdido a cabeça

05 julho 2007

Casa da Livraria

Casa da Livraria e estátua de D.João III
Coimbra

Edifício construído entre 1717 e 1728 na antiga Alcáçova, entretanto Paço das Escolas, aqui se guardam religiosamente 200.000 livros, tão antigos como o séc. XVI!
Em defesa de tanto papel escrito, esta Casa está preparada com alguns pormenores. As paredes exteriores foram feitas com mais de 2 metros de espessura – não por questões anti-roubo mas sim para garantir que a humidade relativa da sala ronde sempre os 60% e temperatura os 18 e os 20º.C; os turistas estão autorizados a entrar mas só em turnos controlados e os estudiosos, para acederem a alguma obra, devem apresentar justificação por escrito e só na Biblioteca Geral poderão consultar o seu livro. O mais difícil foi, contudo, controlar a visita dos papirófagos (ou bibliófagos), insectos que não pagam bilhete nem sabem escrever e que ao conjunto deste papel chamariam um Figo e encheriam o papo até rebentarem. Contra a sua presença utilizou-se madeira de carvalho para revestir o interior da sala e nas estantes. É uma madeira demasiado densa para deixar entrar um destes insectos e lança ainda um cheiro que lhes desagrada. Mas o melhor de tudo foi a introdução de uma colónia de morcegos que à noite papa ocupantes atrevidos (creio que prefere os insectos papirófagos mas que não diz não a turistas atrevidos ou estudantes borrachos). Depois cabe para o zelador do lugar apanhar a caca que os morcegos devolvem sobre as capas com que cada noite se proteje o mobiliário da sala!
Por azar só soube desta colónia depois de lá ter estado, quando mais tarde me dediquei a ler o papel que me foi entregue aquando da visita. Se passarem, averigúem!

Esta Casa da Livraria é conhecida como Biblioteca Joanina, por ter sido mandada construir por D. João V, o Magnânimo.

Castelo Coimbrão

A primeira frente de casas, em baixo, subindo para a direita é a
Couraça de Lisboa
nome dado à frente da muralha com que se deparava quem
chegava a Coimbra vindo de Lisboa

Não precisamos (nem o devemos fazer visto tratar-se de uma senhora) de lhe perguntar a idade para saber que Coimbra é mulher de muitas Primaveras. Tem pelo menos as suficientes para ter vivido no tempo em que as cidades tinham castelos. Mas hoje, na zona alta de Coimbra não há castelo que nos ensine história - há antes uma universidade, nada mal!

O Castelo de Coimbra atava as duas pontas da muralha no seu lado Sudeste, junto à Porta do Sol, adequadamente apontada a Nascente. D. Afonso Henriques mandou aí erguer-lhe uma torre de menagem de base quadrada, seu filho D.Sancho I preferiu uma pentagonal e, uns anos depois aquando da reforma Pombalina da Universidade, o Marquês lembrou-se de mandar as torres pelos ares para erguer um Observatório Astronómico e ficar a ver estrelas. Reza a história que a cisterna, sobre a qual assentava o castelo e estas duas torres, não estava dimensionada para suportar as cargas do Observatório e vai daí, para aquele lugar, nem torre quadrada, nem torre pentagonal nem o Observatório, está lá hoje o Largo Dom Dinis mesmo antes de cairmos pelas "Escadas Monumentais" abaixo. Catrapum!

Sobre a porta de Almedina, a que foi a principal entrada na cidade, apontada a Poente, encontrei um museu-moderno a ocupar a respectiva torre. É o "Centro Interpretativo da Cidade Muralhada", um museu do município. Como anfitrião recebe-nos um apaixonado pela muralha ainda que, por ter má visão, precise de falar muito sobre nós é um encanto de senhor. Há uma maquete com o traçado da muralha por alturas do séc.XII, há um vídeo com habilidades virtuais sobre a história urbana de Coimbra, há uma exposição temporária sobre bonitos desenhos da cidade muralhada, feito por Peir Maria Baldi em 1669, ilustrando a viagem de Cosme de Médicis por Espanha e Portugal. A cereja no topo do bolo somos nós no topo da torre!

Não resisto em deixar este índice para que espreitem outros desenhos de Maria Baldi feitos durante a mesma viagem. O livro está disponível no site da Biblioteca Nacional Digital.

04 julho 2007

História riscada à beira do Mondego

Conhecia-a de nome e de vista, mas de soslaio. Apesar de estar quase certa de que em pequenita andei pelas casas do Portugal dos Pequenitos, verdade se diga que as memórias que guardo me parecem ser ideias que entretanto construí sobre imagens que, em tempos mais recentes, terei visto algures. Afinal, estive aqui antes ou não estive aqui antes?

Lá do alto, a cidade de Coimbra espreita o pachorrento Mondego. É a geometria da urbe que risca a encosta até ao rio e que agita esta paisagem. Coimbra tem cara bonita com rugas que ao sol se riscam mais fundo e que mais fundas melhor lhe ficam. Os riscos de Coimbra exibem provas da história vivida pela cidade.
Aquela ruga mais longa, que lhe atravessa a testa, é o que resta da linha da muralha que há tempos guardou a população. Coladas a ela desenrolam-se, do lado de dentro, ruas e casas com cara de quem almoçou torres de muralha. Do lado de fora as ruas cresceram depois do país conquistado, ziguezagueando sem medo pela Baixa virada a poente, salubre e cheia de vida. Rasgando uma pequena bolsa entre estes riscos e contida entre edifícios altos, a Praça de Comérico é praça capaz de engolir gente, de nos fazer ficar a olhar para si e para nós dentro dela. Para varrer o trânsito rumo ao Norte, a Rua da Sofia foi risco aberto no séc. XVI que, de tão grande e inovador tamanho, até de outros países vieram gentes para a contemplar. A Praça da República, do fim do séc. XIX, é linha que cose a colina ao modernismo que se alastra cada vezs mais. No cocuruto da cidade, o penteado é definido por uma larga quadrícula entupida de carros que separa algumas das faculdades da Universidade re-re-reformada. A ponte de Santa Clara é risco feito e refeito atravessando o Mondego sempre no mesmo lugar por todos os que governaram a cidade e desembocando no Largo que ainda hoje se chama da Portagem. Paralelo ao rio, risca-se de fresco o moderníssimo Parque Verde do Mondego, que ainda espera vir a tornar-se numa bonita ruga com vida entranhada.

Lembrei-me entretanto: sim, eu já aqui tinha estado! Veio-me à memória um caderninho de folhas A4 dobradas em A5, presas por um fiozinho de lã que se enrolava ao vinco das folhas. Era um caderninho de excursão escolar com desenhos para colorir e exercício simples precisamente sobre a visita ao Portugal do Pequenitos. Não servia de avaliação alguma mas, pelo menos, serviu para assegurar memórias uns 25 anos depois!

02 julho 2007

Resumo à chegada

Castelo de Guimarães

No centro histórico do Porto os carris apontavam ao Norte. Pararam já no Minho, no centro histórico da janota Guimarães. O ritmo abrandou... um pouco, mas em breve deixei o cinzento da pedra do Castelo de Guimarães para me deparar com o cinzento do barro de Bisalhães, na cidade de Vila Real em Trás-os-Montes.
Hoje, o destino deste Dentro do Mapa está alcançado: Lisboa.
Os "resumos" publicados lançaram espaço para os Respigos colhidos nestes 10 dias. A sair já-já.

Barro de Bisalhães
Feira de S. Pedro (ou dos Pucarinhos), Vila Real

26 junho 2007

Resumo a meio caminho

Coimbra, do Convento de Santa Clara-a-nova

O Mondego e o Douro serenos, Coimbra e o Porto a escorregarem. Nas fotografias as semelhanças encontram-se mas no tamanho das ruas, nos centros de cada bairro, no ritmo das gentes: acumulam-se diferenças.
Estes dias correm mais do que as minhas pernas conseguem acompanhar. As cidades estão sempre a chamar-me para aqui e para ali. Os respigos amontoam-se à espera de um computador com menos nervos que estes.

Porto, a meio vão da Ponte D.Luís I