"A Gaivota"
Esteve já em cena, vai para mais de um ano, esta mesmíssima Gaivota de Tchekov. É portanto boa de chorar por mais, ou não teriam as sessões estado tão esgotadas que até deu direito a este novo conjunto de espectáculos!
Anton Tchekov nasceu no sul da Rússia em 1860 e morreu na Alemanha em 1904. Estudou e exerceu medicina mas, segundo ele próprio, amantisou-se com a literatura. É autor de outras peças de teatro mas também de muitos contos cheios de tristeza e humor russos - pensando bem (ou pensando só) um belo propósito para uns post's.
Sobre esta peça pouco me atrevo a deixar escrito (liguem-me para o telemóvel se me quiserem ouvir!). A sua estreia em Outubro de 1896 foi estilo catástrofe com tudo a correr mal e o público a fazer chacota da representação. Escrita como comédia em quatro actos acaba num final trágico, e recheia-se contendas artísticas entre gerações, de alguém que ama outro que ama outro que ama outro que ama todos, mas sem um enredo espalhafatoso, e tantas vezes visto mesmo como não tendo acção, como sendo parado.
Logo no primeiro acto um dos personagens, Treplev - o escritor jovem, começa por defender que o teatro não tem nada que representar a vida! E resumo os meus pensamentos: esta peça é um bocado de vida. Um bocado de uma vida que não é a minha, mas que consigo ver e sentir da mesma forma com que só eu vejo e sinto os bocados da minha vida. É um condão conseguirem levar-nos (no teatro, na televisão, onde for…) assim para vida. Vale o Tchekov, vale o Cintra, valem os intérpretes, vale o cenário até quando não lá está. Vale o teatro, ora pois!
Espreitem a ficha técnica e o texto do Luís Miguel Cintra que dá para ler umas quantas vezes sem nos fartarmos. Fica também o horário da bilheteira e a localização do Teatro do Bairro Alto (que não é no Bairro Alto!). Sigam!
Claro que não resisto a deixar isto, para os mais corajosos, ou a recomendar isto, para todos!
Já vi três vezes... e está tudo dito!, como diz Sorin.
8 comentários:
É, está tudo dito mas podem espreitar também este sábio post de informático. (clique + Shift, para abrir em nova janela)
E está tudo dito e por aí fora!
É por vezes difícil falar daquilo que amamos aos outros, corremos o risco de parecer tolinhos!
Para mim, os encontros com este texto foram inesquecíveis: da primeira vez, em papel, da segunda, em húngaro com tradução simultânea através de auscultadores, da terceira, o ano passado na Cornucópia, da quarta, este ano, de novo na Cornucópia.
Lembro-me da grande perplexidade que senti perante a história algo confusa destas personagens, história essa que de facto o não era, dada a ausência de progressão narrativa. E lembro-me também da perplexidade ainda maior que foi ver aquela acumulação de pormenores, situações e conversas aparentemente inconsequentes ganhar corpo até se transformar em algo de grande e belo. Há por aqui uma humanidade irresistível, na sua autenticidade, da pureza e exaltação da juventude ao desencanto de uma vida que não se viveu a sério (e ao desprendimento irónico dos que a viveram à saciedade).
Não fica tudo dito (nem poderia ficar), fica apenas uma espécie de declaração de amor por esta peça.
Se, depois de isto tudo, e do Paulu e de mais não sei quantos, eu não arranjar bilhetes ainda para a coisa acho que vou ser um personagem digno das outras peças do Tchekov, daquelas que parece que se tentam matar mas nem isso conseguem!
Toda a gente fala desta peça excepto a SPEA. É um escândalo!
Eu... acho que só quando me esquecer das falas, quando deixar de ver as cenas, quando desaparecer esta sensação..., penso se a volto a ver. Foi a primeira vez e soube pela vida.
Obrigada pelos comentários. Dá gosto quando o post ou o assunto proporciona tanto conversé!
Goncas e Raquel: sensações boas para congelar e ir buscar de vem em quando!
Pedro: e então? conseguiste bilhetes? Esperamos um comentário teu à peça?
Paulu: haja quem nos esclareça sobre a migração da Larus stanislavskinensis !!
E agora 'A Gaivota'. Aqui tenho que andar com cuidado porque ainda me lincham!
Excelentes representações em geral, boa encenação. Um texto forte, guiado, a desenvolver situações do início ao fim, sem deixar pontas soltas que não sejam para estar soltas. E que diferença faz a qualidade do texto!
Mas a encenação é excessivamente longa e ao fim de 2h00 um gajo já não aguenta o rabo, nem as costas, nem a porcaria da televisão dos vizinhos que infelizmente se ouviu metade da peça (até os ditos se irem deitar ou fazer amor - mas não se ouviu mais nada!).
Para quê o texto na íntegra? Por que não ter os 'tomates' de adaptar a coisa, e falhar a tentar, se for o caso? Não estou a falar de cortar cenas, mas os actos acabam quase todos com um monólogo de 20 minutos . Não se podia ter feito a coisa em 10? Evitava-se que houvesse desistentes a meio, como houve no dia que fui.
Mas a peça é boa. Eu é que no teatro quero sempre melhor: acima de tudo melhor entretenimento, seja ele sério ou bacoco. Não quero La Féria, quero chorar e rir de forma mais condensada... 3h30 é, simplesmente, longo demais.
Dito isto, já pensei várias vezes na peça, em pequenas situações, em emoções não resolvidas ... sempre sinal de qualidade.
Ou seja, foi bom, mas teria sido excelente se as Lérias não tivessem sido tão longas.
Pedro: também não me aguento naquelas cadeiras, apesar do que se passa à minha frente chegar para esquecer o desconforto (até que alguém faz ranger o seu assento para aliviar as costelas). Agora quanto à TV do vizinho isso nunca apanhei na Cornucópia – devo ter tido muita sorte!
Talvez tivesses achado a peça excelente se não tivesses as expectativas tão altas à conta destas coisas para aqui escritas!
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