31 maio 2007

EN 246-1

26.05.07, Marvão, PortalegreEste é a nossa passagem pelo Túnel dos Freixos ali no princípio da Estrada Nacional 246-1, entre Marvão e Castelo de Vide - Portalegre. Quem passa, se não vai a dormir, não esquece!
Os freixos (Fraxinus angustifolia - espreitado aqui) dão idade à estrada, dão juízo aos condutores que temem espetar-se neles, e dão medo aos co-pilotos que acabam por recorrer àquele travão oco debaixo do seu pé direito sempre que calha cruzarem-se com outro carro. Mas também nos refrescam com a sombra, e fazem-nos ver a paisagem às tiras e ouvir o som aos soluços.

No PDM do Município de Marvão, este troço da EN 246-1 é o nº.15 classificado na lista do Património arquitectónico e arqueológico. Li que entretanto a alameda dos freixos tinha sido desclassificada (?) mas não encontrei provas da destituição das árvores e esta referência cheirava demasiado a política.

Ao lado desta correnteza de árvores, no lado que fica na base da proeminência onde se instala a muralhada cidade de Marvão, lá nos cruzámos o que, em pleno Verão de há dois anos, era um fresco campo de golfe. Era então um oásis de verde na secura do Alentejo, que até feria os olhos a quem chegava vindo da palha seca e amarela dos campos e dos montes. Era um berro agudo na calma alentejana cantada pelas cigarras. Era uma nódoa de esparregado radioactivo numa toalha de tons pastel.
Este fim-de-semana, quando por lá voltámos a passar, por entre os troncos dos freixos revimos o campo de golfe. Estava murcho, triste, de barba por fazer, cabelo desgrenhado e a suspirar ressequido. Tinha até mau hálito. E ainda por entre os troncos dos freixos, fomos a tempo de ver, ao fundo, frescas-fresquinhas e a rebentar com a força de uma Primavera que todo o ano lhes deve cobrir o tecto, mais das mesmas urbanizações volumosas, quadradonas e a perfurar a terra sem dó nem piedade. Serão filhas ou netas ou bisnetas das que víramos também há dois anos. Mas ai que brotam como erva daninha!

29 maio 2007

"Shortbus"

realizado por John Cameron Mitchell
2006

A ideia de um filme cheio-cheio de sexo e sexos a bailarem às claras, sem planos filmados de esguelha nem fades estratégicos ou violinos chorosos e que ainda por cima partilhe salas com os blockbuster é, apostaria, uma ideia muitos e de há muito.

É certo que a história de Shortbus tem algumas coisas de estilo convencional, e que já se viram melhor exploradas noutras situações do cinema que está na moda: tem histórias de personagens com vidas muito maradas e que teimam em cruzarem-se umas com as outras; tem gente americana deprimida e infeliz com a sua vida; tem as twin towers; tem a frustração de uma mulher que não pertence ao talgrupo e tem um grand finale com uma festa de cantoria folclórica. Mas estas vidas, esta gente, esta mulher, ou esta banda, que já andaram noutros lados, aqui despem-se de preconceitos e de roupas, sem despropósitos e sem escândalos.
Talvez Shortbus seja um princípio para que, no cinema, o sexo apareça com mais desígnio e deixe de se resumir às lamechices da treta que escondem pudores fora-do-prazo.

Este filme foi um belo remate para um dia onde coincidências acumuladas fizeram saltar a rolha de um espumante rosé.

(carregar na foto para ver onde se exibe este filme)

28 maio 2007

Afoito Berlioz

27.05.07, Coliseu dos Recreios, LisboaEla andava intrigada com esta questão já há coisa de duas ou três semanas. Na verdade, aqueles bonitos sons podiam até ter aparecido antes, não sabia precisar ao certo porque no início mal dava por eles. Depois prestou-lhes alguma atenção mas a cada noite que passava o agrado crescia e agora o gosto era maior, agora ela encantava-se com aquilo. Ficava parada estendida no chão até sentir, por todo o seu corpo, a vibração dos suspiros chegados naquele som, depois esticava ora o pescoço ora a cauda que ondulavam ao ritmo da música e, no final, deixava-se enrolar pelo prazer de um calor sobre as suas escamas. Era um prazer que desconhecia poder chegar-lhe assim, tão bravio, vindo do ar, no meio do escuro.
Ah, mas esta noite ela vai atrever-se. Vai. Vai sair daquela nesga onde se recolhe mal o sol se põe. Vai ver que príncipe é afinal capaz de tal habilidade. Vai talvez com ele casar ou, se não puder, de amor por ele vai morrer.

E seu dito, seu feito, a lagartixa Afoita Tixa subiu esta noite ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para assistir a uma sinfonia fantástica de Berlioz, a terceira peça do programa apresentado pela Orquestra Sinfónica de Londres.
Depois da emoção do concerto em sol para um singelo piano de Ravel, interpretado por Javier Perianes, que lhe provocou uma série de tremeliques, foi só graças ao intervalo que recuperou a tempo de se ir colocar sobre o estrado do maestro. Antes do começo ainda um violinista a enxotou de lá com o seu arco, a meio ainda ela se afastou para melhor ver aquele príncipe-artista condutor, em pleno crescendo da sinfonia ainda ela se atreveu a subir pela perna de um violoncelista (que sem perder a postura, e com alguma doçura, a sacudiu logo que pode). Da última vez que a vi tinha, depois de outra tentativa frustrada em subir para o colo de um músico, parado no degrau das harpas. Talvez dali conseguisse ver bem o seu príncipe-artista, o seu animal mímico de batuta em punho. Talvez o maestro Daniel Harding tenha dedicado o encore à Afoita Tixa, a tenha vindo cumprimentar depois e quem sabe se lhe deu um beijo desencantador e a transformou numa linda princesa, com quem casou e com que já vive feliz há muito e muito anos.

Ora imagine então quem quiser as condições em que vivia a Afoita Tixa nas nesgas bolorentas do palco do Coliseu dos Recreios. Imagine quem quiser o que esconde aquela alcatifa vermelha descolada nas pontas, o que está sob aquele chão de madeira pintado a tinta gasta ou atrás do aglomerado de madeira riscada a esfarelar. E imaginem também as conversas da noite entre os músicos e as conversas que vão levar para casa (e lembro-me agora das que trouxemos de África).
Eu calculo, e ponho as minhas mãos no lume, em como a Afoita Tixa aprecia a sala do Coliseu e a música que nela se faz com mais gosto e estima do que os engenheiros que desta sala deviam cuidar.

20 maio 2007

Carochinha aos quadradinhos

Dobra a esquina um carocha cor-de-rosa. Pára em frente ao toldo que cobre a passadeira vermelha estendida sobre o passeio, desde a entrada do restaurante. Abre-se a porta, sai o chofér de cartola e laço. Contorna o carocha cor-de-rosa. Abre a porta de trás. Uma perninha muito fininha, de colant de mousse preta e salto alto carmim, espreita do banco e puxa atrás de si o corpo mimoso da Carochinha num vestido cor-de-rosa de pintas brancas, folhos ondulados na bainha e nas alças e cintura anelar.

A Carochinha tinha encontrado um notita de 500 euros bem enroladinha entalada numa tábua do seu parquet flutuante. Embonitara-se na clínica de estética ao fundo da rua, fora ao multibanco autorizar saldo para conta do telemóvel, ligara para alguns amigos e agora vinha jantar com o João Ratão, que apesar do nome era apenas um ratinho franzino com pouco ou nenhum ginásio mas o único disponível para esta noite combinada assim, tão ao momento. O burro José estava a jogar consola, ao gato Pingado surgira de urgência um enterro, o cavalo Quim estava em provas de saltos em Estremoz, o porco Tô não respondera, o cão Plexo estava com uma depressão, e o galo Farto de ressaca. Venha o Ratão então.

O restaurante era um mimo. Imaginem em tons de rosa: as paredes com frescos a imitar mármore, as toalhas de mesa em cetim debruado, as cadeiras de costas altas forradas de algodão pele-de-pêssego, as estrelinhas que brilhavam coladas no tecto. Também era cor-de-rosa a luz íntima das velas, era rosa a água leitosa da fonte central que caía para um tanque com peixinhos cor-de-rosa, de rosa se perfumava o ar, e até a música de fundo soava a cor-de-rosa.

Ofuscada pelo ambiente onírico, a Carochinha mal deu pelo João Ratão pardacento que dela se aproximou a medo. Mas foi embrulhados naquele ambiente que lhes veio ao pensamento Oh, como está linda! e Olha, até parece que está mais corpulento! Em coro disseram: há quanto tempo! Como estás? Principiada a sintonia, sentaram-se os personagens à mesa e avançaram pedindo, de novo em uníssono, um consumê de beterraba com aipo e amêndoa pilada. Trocaram sorrisos e, sem que alguma vez o chegassem a saber, pensaram juntos Ai, tanto em comum, em tão pouco tempo… Depois olharam-se olhos nos olhos e esperaram ver surgir faíscas. Mas nada. Esperaram calados. Nada. E uma mesma ideia lhes ocupou a mente Oh não, afinal nada em comum…
Ainda antes da chegada do petisco, o João Ratão pediu licença, levantou-se e foi ao xixi dos nervosos. Passando pelo corredor, o seu nariz agarrou o fio de um cheiro que o puxou até à cozinha. Lá dentro ninguém. Fervia um tacho. E já se sabe, acabou o rato cozido no caldo. Gritaram os cozinheiros, chamaram-se os bombeiros, e logo chegou o INEM com uma viatura super-bem-equipada que pescou o João Ratão, o reanimou e o levou para as urgências com um prognóstico tranquilizador.
Perante tudo isto, a Carochinha viu-se quase viúva antes de ser casada. Ai a minha vida meto-me sempre em histórias da carochinha. Tenho é de me ver livre deste universo limitado ao cor-de-rosa romântico e barato onde com 500 euros se faz uma limpeza de pele, se aluga um carro e se quer casar.

Olhou à volta. Nada para além daquele cor-de-rosa que já começava a ser demais. Fechou os olhos. Abriu os olhos. Outra vez nada. Outra vez fechou os olhos, agora com força e concentrada. Outra vez abriu os olhos. O restaurante tinha ganho uma cor castanho-esverdeado. O tecido de cetim deu lugar a uma lona grossa estampada de camuflado militar, as cadeiras eram agora bancos de pau com pingos de tinta, na fonte duas piranhas algum lodo e qualquer coisa podre a boiar. Cheirava a cigarrilhas e a luz deixava ver o fumo da sala.
Sentado solitário na mesa do fundo, um incrível homem musculado de tez verde. Só vestia uns calções de baínhas rasgadas.A Carochinha achou que não era tarde nem cedo. Chegou-se a ele, esticou-lhe a mão e disse Sou a Carochinha, muito bonita e engraçadinha, Eu sou Dr. Bruce Banner, Hulk para os amigos. És nova aqui! Bem-vinda sejas às histórias aos quadradinhos!

A Carochinha sentou-se e deixou tombar o seu pescoço-caule-de-flor sobre o deltóide de Hulk que lhe fez uma festa no rosto com o dedo indicador. A Carochinha estava decidida, agora ia tentar a sua sorte histórias aos quadradinhos.

18 maio 2007

5ª.feira de Espiga, S.G. sem espinhas

17.05.07 No Maria Matos, até Domingo 20, Sérgio Godinho (em) ligação directa. Se recomendo? Corram já à bilheteira, leiam o post depois.

A minha mãe deve-se ter fartado de ouvir o Godinho enquanto estava grávida de mim, depois deve-me ter embalado ao som do Godinho e depois ainda, quando me achou crescidinha, deu-me para a mão o LP Duplo Era uma vez um rapaz e ensinou-me a mexer no gira-discos, com jeitinho olha que risca. Hoje em dia partilhamos entre nós a custódia dos CD's (se não todos, quase todos) do SG, se grandes bulhas mas com alguma negociação.

A experiência que é assistir a cada concerto do Godinho e seus novos Godões tem um quê do que me parecer ser ao que se chama milagre. Ontem ouviram-se as prometidas 25 músicas, umas quantas do novo álbum Ligação Directa, outras quantas sem o serem.

Mas de um músico com tantos anos de carreira e para este meu ouvido viciado em Godinho, de “antigo” ali nada se ouviu. Tudo me soou a novo! Tudo batido em claras, numa única e impecável surpresa que só a sábia generosidade do Godinho pode dar às suas músicas quando as deixa serem inspiradas pelo dom do Nuno Rafael e o trabalho daquela empenhada equipa. Músicas antigas, mais antigas do que eu e daquelas que conheci antes mesmo de nascer, foram postas a demolhar num caldeirão do elixir da juventude e ficaram, outra vez, muito bem neste seu novo visual. Num repertório com mais intervenção do que romance, com um gomo de tangerina ritmado por um teclado numa antiga máquina de escrever, com um homem fantasma apresentado por coro alentejano, com um relógio de cuco na casa onde alguém vai dar devagar.

E todos os créditos para: Nuno Rafael, pensador, nas guitarras, toca também máquina de escrever; Miguel Fevereiro em ainda mais guitarras; João Cabrita, um resistente dos habituais três assessores de Godinho, nos sopros e alguns coros; João Cardoso no piano, teclados e muito animação; Sara Côrte-Real no coro, teclado, percussão e a afiar a espada do velho samurai; Nuno Espírito Santo, o mais alto, fica no baixo; Sérgio Nascimento, um animal da percussão, numa bateria híbrida de batida portuguesa traz puros o seco som do tambor e o solto som da pandeireta; Godinho na batuta, sempre em plena ascensão!

ui, foto não autorizada

16 maio 2007

Freire nada mal

Estranha semana esta com o lançamento de dois livros por dois autores tão especiais.
Desta vez são as Memórias, de João Freire: Pessoa comum no seu tempo, das Edições Afrontamento (com página da net actualizada pela última vez a 12.02.2007, ou seja ainda não há links para esta obra e não me apetece deixar aqui o link para a Editora). Aconteceu no ISCTE, na terça dia 15.
Um título à primeira vista paradoxal. Não se pode tratar de uma pessoa comum ou as estantes das livrarias estariam à data cheias de biografias de portugueses.
É certo que a etiqueta de herói, de pessoa não-comum, flutua ao sabor do contexto em que se envolve cada geração: Aristóteles herói pensador, Infante Dom Henriques herói navegador, Einstein herói físico, Freire herói idealista. Mas como serão escritas as Memórias dos que hoje têm 20 ou 30 anos? Vamos ser heróis de quê? Parece-me que a nossa geração não vai ser herói de coisa alguma ("coisa" das que valham a pena). Será que vamos eternamente sentir que desiludimos os heróis idealistas.
(ah! teremos as memórias do Cadilhe!)

A matemática nunca foi tão simples

É, a matemática nunca foi tão simples principalmente quando é abreviada, sem rigor, por quem dela pouco ou nada percebe.
Durante toda a semana passada, na TSF (pelo menos) passou um anúncio a qualquer coisa, nem sei bem a quê. É um diálogo entre uma senhora e um senhor. A senhora, de voz muito feliz, começa por perguntar ao senhor se ele conhece a nova fórmula das viagens. Não diz ele, com voz menos alegre mas de entoação muito moderna. Então, estás a ver a do Einstein? (como se o Einstein só tivesse uma fórmula!). O senhor assusta-se (aich!) Que complicado. E ela, num exercício de lógica, Não é, se e = mc² então a = mt³. O senhor fica baralhado e ela continua na lógica: porque a é de Avis, m é de milha e 3 é de triplicar! Ah!, fez-se luz no senhor, então a Avis está a dar milhas a triplicar! Pois no aluguer de não-sei-quantos carros ganhas milhas a triplicar no teu cartão-de-não-sei-quê. E ele suspira Realmente a matemática nunca foi tão simples.
Ui, com isto até Einstein deve ter ficado com o bigode arrepiado.
Que a seja de Avis e m de milha, ainda vá que não vá. (se bem que a pode ser de área ou de amor e e m de metro ou de melga). Agora, um simples 3 é um 3, e do que mais é depende de como se arruma e de outros sinais próximos de si, que também pertencem ao reino da matemática: pode ser 3 de dividir por 3, 3 de somar 3, 3 de subtrair 3, também pode ser 3 de multiplicar por 3... mas aquele 3 é ainda outro, é um expoente, é um t de TAP multiplicado por si 3 vezes seguidas.

Esta segunda-feira de manhã (também pelo menos) o anúncio já estava diferente e a fórmula da Avis em vez de TAP elevado a 3 propunha TAP vezes três. Finalmente correcto, mas sem relação que se veja com a fórmula do Einstein. Juro que não fui eu, talvez tenha sido um cliente Avis que quis milhas ao cubo em vez de milhas a triplicar. Mesmo assim demorou uma semana e ainda o tempo de idealizar o anúncio e ainda o tempo de o realizar para um monte de macacos dar com a complexidade da matemática.

15 maio 2007

A hibernação das andorinhas

300407, Rio de Onor, Bragança Andorinha-das-chaminés
Hirundo rustica


Que uma andorinha não faz a Primavera é frase nossa bem conhecida. Menos conhecida é a teoria sobre a hibernação das andorinhas. A frase chegou aos nossos ouvidos de séc XXI, a teoria evoluiu, actualizou-se perdedendo-se a sua primeira versão. Quem as propôs, a ambas, foi o Senhor Aristóteles, pensador grego que viveu há mais de dois mil e trezentos anos.
Nessa altura pensava-se muito. Havia muitas coisas nas quais nunca se tinha pensado e as conclusões que saíam destes novos pensamentos eram mais vezes aceites do que contrariadas porque, no fundo, havia mais em que pensar.
Quando a Terra era ainda o centro do universo conhecer a causa do desaparecimento e do regresso das andorinhas, entre o início o Outono e o início da Primavera, não pareceria ser assunto merecedor de prioridade. Mas Aristóteles, que pensou sobre tudo, também nisto pensou e em Historia Animalium deixou as suas conclusões sobre o assunto. Disserta que apesar de muitas aves migrarem para (talvez) lugares mais quentes, outros, como as frágeis andorinhas, hibernam, escondendo-se com mestria e poupando-se assim aos trabalhos da migração. Viu Aristóteles, em pleno Inverno grego, andorinhas abrigadas em buracos num estado de adormecimento e despidas das suas penas. Esta teoria foi aceite e os pensadores foram pensar noutras coisas que ainda não tinham sido pensadas.
Quase duas dezenas de séculos depois, vigorando ainda assim as conclusões de Aristóteles, os primeiros naturalistas relataram um fantástico episódio sobre um bando de andorinhas que foi visto em caniçais junto a um pântano. Reuniram-se durante alguns dias, privando depois entre si em voos loucos e majestosos repastos aéreos de insectos. Comiam, engordavam, comiam, engordavam e engordaram até que os juncos onde se empoleiravam se dobraram ao seu peso e elas se deixaram engolir pelas águas, mergulhando para um sono trôpego que duraria todo o Inverno.
Outra história não menos fantástica é a narrada por Olaus Magnus, um arquiduque Sueco, no tempo em que as andorinhas se enrolavam em novelos para se deixarem mergulhar nas águas dos lagos. A história confirmava-se por terem sido recolhidos, pelas redes de pescadores da Escandinávia e ao monte com o pescado, novelos de andorinhas, unidas de bico no bico, asa nas asas, mão na mão. Quando apanhadas, e se aquecidas, estas andorinhas soltavam-se umas das outras e começavam a esvoaçar. Mas a técnica era de evitar porque os animais que acordavam, depois de uns breves segundos morriam, e morriam de vez. Por outro lado, as que passavam a época fria a dormitar, por altura da Primavera começavam a deixar os fundos para regressarem aos claros e solarengos céus.

Quando faltavam 100 anos para Darwin, o conde de Buffont, George-Louis Leclerc, resolveu voltar a pensar sobre esta hibernação das andorinhas. Estava desconfiado! No seu estudo História Natural das Aves justificou a sua suspeita com chatos dados científicos respeitantes à capacidade das andorinhas em estarem 6 meses sem respirar ou 6 meses a respirar dentro de água. E remata o assunto de chofre porque afinal ninguém tinha assistido a um fenómeno tão brutal quanto seria ver bando de andorinhas a mergulhar dentro dos lagos ou, melhor ainda, ninguém as tinha visto sair de lá rumo ao céu da Primavera.
Ao cair do pano do séc. XVIII, um Lazzaro Spallanzani lembrou-se de atar fitinhas aos pés das aves para as identificar e registar as suas movimentações mas a anilhagem em aves com propósitos científicos foi experimentada por um dinamarquês, H.Christian C. Mortensen, que ainda teve de esperar pelo o alumínio.
Mas ter-se-ão assim acabado as histórias mirabolantes e as explicações fabulosas sobre a hibernação das andorinhas? Talvez, no entanto não é menos heróica e fantástica a história da migração de 20 gramas de andorinha que voam 5.000 a 7.000 quilómetros desde África, sobre o deserto e sobre o Mediterrâneo, até ao sul da Europa Primaveril. Uma vez cá, de regresso aos seus ninhos, arranjam-nos num tricot de bolinhas de lama para depois namorarem e chocarem filhotes a tempo de crescerem fortes para poderem regressar à África quando o frio da Europa fizer desaparecer os insectos de que se alimentam. Uns há que não se conseguem devenvolver o suficiente para partirem. São crias de ninhos tardios, demorados a construir à conta da destruição humana. Enfim... pousemos antes os olhos nas andorinhas em bonitos voos de fintas e pesca aérea.

(Gosto destes hoje-absurdos em tempos cridos e queridos por todos. Quais das nossas hoje-certezas vão voltar a ser pensadas?)

14 maio 2007

Cadilhe no seu melhor

Já saiu a nova obra de Gonçalo Cadilhe, o nosso mais do que assumido herói! Em África Acima reúnem-se as crónicas já publicadas no jornal Expresso e intercalam-se algumas das melhores fotos, a cores, à semelhança dos seus livros anteriores.
O lançamento do livro foi hoje e foi ao estilo do melhor de Cadilhe: na Fnac do Chiado, uma sessão fotográfica restringida aos que apareceram também para ouvir as histórias contadas com a graça espontânea que lhe vimos na defesa do Infante como melhor Português de Sempre.
Depois de amanhã, Gonçalo Cadilhe parte para a sua próxima aventura, que não chama de viagem. Tem um muito bem definido percurso de investigação biográfica! A acompanhar nos próximos números da revista Única, com calma - para quem conseguir não se enervar com a espera pelos Sábados.
Ainda assim, Boa Viagem!

12 maio 2007

Lisboa? só em postal ilustrado!

120507, Rua da Prata, Lisboa Rap aos caídos

casa, Carmo, Trindade, paciência

Muro, Hitler, fascismo, Salazar
euro, cláusula, dólar, audiência
taxa, máscara, cadeira, stock, lugar

chuva, véu, coração, mito, dentuça

bomba, braço, consumo, ligação
pano, nódoa, Bastilha, carapuça
letra, lucro, Soviética União

Roma, fé, manto, Júlio, percentagem

sonho, água, estrela, frio, juízo
noite, sol, esperança, réu, sondagem
folha, fruto, flor, céu, anjo, granizo

jura, juro, relâmpago, promessa

tempo, zero, império, bom princípio
rei, vedeta, seguro, quem tropeça
e em Lisboa triste cai o município!

09 maio 2007

Comunitarismo, até onde?

300407, Aldeia de Rio de Onor, Bragança A aldeia de Rio de Onor fica a norte do nosso norte, fica a dois curtos passos da fronteira com Espanha, e a três iguais da aldeia, sua siamesa, Rihonor de Castilha.
Desta aldeia portuguesa se diz que é a melhor preservada das poucas aldeias ainda comunitárias. Noutros tempos, mais do que agora, a população organizava-se para dividir entre si o esforço das tarefas necessárias à sua luta para viver naquela Terra Fria, lugar com clima tão severo e relevo tão teimoso. Partilhavam o trabalho nas terras de semeadura e nos lameiros (prados que acompanham cursos de água), orientavam-se nas vezeiras (pastoreio à vez) e no forno comunitário, e havia até o boi cobridor que por todos era bem alimentado a para todos bem trabalhava. Foi com a força desta aliança que as gentes foram sobrevivendo à fragilidade do isolamento de resto dos seus países, força que até fez medrar o dialecto rionorês, qualquer coisa com português arcaico e muitos toques de castelhano.

Saiu-nos frustrado o passeio à beira rio e acabámos a beber um café e a fazer perguntas ao senhor atrás do balcão. Num estilo nada virado para o turismo, ou talvez até já farto dele, respondeu-nos que ah isso o trabalho comunitário agora fazemos pouco cada vez há menos gente temos este campo largo aqui à frente onde cada família trata de um pedaço e todos se juntam na altura de o trabalhar. Conversa desconsolada, como a luz daquele dia, e cansados que estávamos esmorecemos à espera que todos fossemos e viéssemos da casa-de-banho. Entrento fiquei a saber que o Grupo Mário Madeira, com o seu palco móvel, vai tocar a Rio de Onor no dia 12 de Maio às 22 horas: um acordeão, duas guitarras e duas mini-saias prometem pôr a dançar até os esqueletos. E entra outro cliente. Boas tardes! Atão Manel hoje calhou-te a ti? É verdade o Zé teve de ir levar a irmã e vim cá eu ora tem de ser assim um vez eu outra vez ele temos de ser uns prós outros. É. O Zé comprou três isqueiros, dá-me lá um de cada, um do Sporting, outro do Porto e outro do Benfica, experimentou cada um deles e saiu.
Em Rio de Onor está a cair em desuso o comunitarismo agro-pastoril mas o próximo grito da moda vai talvez ser o comunitarismo turístico-comercial.

E porque o Manel do café não se descoseu com grande coisa, andei pela net à procura de mais informação sobre estas coisa do comunitarismo. Há um livro Rio de Onor, Comunitarismo Agro-pastoril de 1953, do etnólogo António Jorge Dias (editado pelo Presença) e este pequeno texto, com curiosidades q.b.!

08 maio 2007

Mon Oncle

em exibição...
realizado por Jacques Tati
1958

É um filme quase mudo mas que fala pelos cotovelos!
Fala pelas imagens: a casa e o mobiliário “designados” dos Arpel e as linhas das novas estradas que circundam Paris, a casa e as escadas dos Sr. Hulot, as cores da vida deste antigo quarteirão de Paris; fala pela banda sonora de Franck Barcellini e Alain Romans que, por vezes, até entra pela acção a dentro; e fala pelo som dos movimentos dos personagens: os saltos altos no passeios, os vestidos na Madame Arpel, o repuxo, os engenhos mecânicos que dominam a cozinha dos Arpel, os assobios marotos dos miúdos e as cabeçadas nos poste, o rosnar do cão à cabeça do peixe-espada, o canto do canário encantado com a luz do reflexo…
É um filme cheio de filmes!

“Monsieur e Madame Arpel moram numa casa moderna num bairro asséptico. Neste universo de estilo não há lugar para divertimento, imprevistos ou humor e o filho, Gérard, aborrece-se. Mas eis que surge o seu tio, Monsieur Hulot, irmão da Madame Arpel, um personagem deslocado e inadaptado vindo de um caloroso e caseiro mundo em extinção para dar lugar a um universo confortável, high-tech, clean. Para grande divertimento do seu sobrinho, Hulot provoca a desordem na casa dos Arpel e semeia problemas na empresa Plastac.
O assunto? Monsieur e Madame Arpel têm tudo, alcançam tudo o que ambicionam e na sua propriedade tudo é novo: o jardim é novo, a casa é nova, os livros são novos. Penso que é preciso preveni-los, alguém devia sussurrar à orelha do Monsieur Arpel: atenção, um pouco de humor de vez em quando! O vosso filho só tem 9 anos e parece-me que não têm interesse em se divertirem nem em brincarem com ele. Parece uma mensagem mas não o é: acho que temos a liberdade de dizer a um senhor que esteja a construiu uma casa nova: atenção! Está talvez demasiado bem.”
Texto de Jaques Tati, traduzido do francês partir do sitio oficial Tati Ville

04 maio 2007

Bicas, o cão-pastor

30.04.07, Aldeia de Montesinho, Bragança

Entre a aldeia de França (km 0 aos 670 m de altitude) e o alto da Lama Grande (km19,5 – 1380 m) parámos qual proficientes estrategas na serrana aldeia de Montesinho (km12 – 1007 m) para uns galões, um queijinho e umas informações. Tudo tomado num só gole à mesa do café que, não sendo café de cidade não se chama Café Central mas, em sintonia com a sua localização aldeã, chama-se então Café Montesinho.
A altura do sol, a cor das nuvens no céu, a distância que calculávamos termos ainda de percorrer até ao abrigo na Lama Grande, foram argumentos para que num instante as mochilas voltassem às costas e as botas se fizessem ao terreno. À esquerda deixámos a Casa do Povo, acolá um quadro com um mapa do parque, adiante a estreita rua por onde devíamos sair. Dez, quinze passos dados e da direita vem, escadas a baixo, ao nosso encontro, um cão branco de pelo cerrado, FIGAS ANDA CÁ!, gritou a velha vestida de preto que estava sentada na nesga de sol ao cimo das escadas. Mas o Figas - ou Fisgas, como a um de nós pareceu ter ouvido, ou Fragas como a outro soou mais enquadrado – não quis saber de apelos. Exibiu-nos piruetas, esfregou-se às parvas na terra e depois nas ervas, e zarpou pelo seu mundo a dentro, connosco querendo partilhá-lo como um verdadeiro cavalheiro senhor de montanha.
Ainda o enxotámos duas ou três vezes, vai p’ra casa pá que nós não vamos dormir a Montesinho. Mas o bicho fez-nos orelhas mocas e tratou de nos impor um ritmo de caminhada, farejando o caminho à nossa frente, chamando-nos a atenção para os desvios do trajecto e ainda nos mostrou bons atalhos e até como se brinca com uma raposa. Cumpriu bem a sua missão de fiel acompanhante e vigilante mas chegados à Lama Grande nem uma rodela de chouriço tínhamos para lhe dar – enfim, lá se lambeu com pão, biscoitos de azeite e brownies. Ainda o convidámos a entrar no abrigo, que estava aquecido pela lareira, mas o bicho não se devia sentir bem debaixo de tecto e aquele frio devia ser trocos para ele. Acabou por passar a noite lá fora, e ainda nos assustou com os seus passos na pedrisca ou com os ruídos arejados de cão que procura pulgas nas suas partes íntimas. De manhã, quando acordámos, o cão já não estava lá, teria partido para os que lhe davam comida.
Mais de 20 km depois chegámos à aldeia de França com os pés feitos em tábuas e a alma recheada de belas vistas. Apanhámos o carro, jantámos com o empate do Benfica-Sporting num restaurante de beira de estrada e acabámos por ir dormir a Montesinho. O bife de quase meio quilo que tinha sobrado do jantar tinha um destino: um pagamento retroactivo!
E se Montesinho é uma pequena aldeia: acabámos dormindo numa habitação sobre o Café Montesinho; a dona do café era também a dona do Figas que afinal de contas se chamava Bicas. E o Bicas, onde estava? Tinha chegado cedo à aldeia na manhã passada, e foi logo “apanhado” pela dona, a sair debaixo de umas escadas com ar comprometido. Não perde a festa com um grupo forasteiros de botas e mochilas que se faça aos caminhos que ladeiam Montesinho – aos locais não liga pevas. Agora estava de castigo, fechado num quintal – ainda que cheio de espaço, ali para trás da igreja.
Fomos lá dar-lhe o bife mas o que ele queria era vir connosco, pastorear-nos!
O Bicas foi um verdadeiro cão-pastor e nós o seu rebanho sem tresmalhos.

03 maio 2007

Selvagens e acampados

29.04.07, Lama Grande, S. de Montesinho, Bragança

Na lista de alojamentos do ICN para o parque de Montesinho, há umas fotos-giras de casas de alvenaria de pedra recuperada, com camas de lençóis lavados, almofadas fofas e chaminés a fumegar. Ao longo do trajecto que tínhamos planeado para o nosso passeio cruzar-nos-íamos com 4 destes alojamentos da responsabilidade do ICN. Pareceu-nos perfeito dispensarmos o carregar às costas de tendas, colchões e sacos de cama quando, ainda para mais, a alternativa passava por alugar umas destas casas-abrigo que a meio percurso no receberia de braços abertos.
O pedido de informações via e-mail está, ainda, por responder por outro colega que não o colega Sr. Simpático que nos esclareceu as dúvidas sobre os percursos. Recorrendo ao telefone “o Parque está cheio, só temos disponível a Casa Retiro de Montesinho e apenas para a noite de Domingo para Segunda-feira”. “Cheio?” Mas falava-se do Parque Natural ou do Parque de Campismo? “Cheio?” Verificámos a página da Internet: as restantes 3 casas que nos interessavam aparecem como estando “em recuperação”(!).
E assim, lá voltámos a carregar as mochilas com tendas, colchões e sacos de cama, para podermos dormir onde tivesse de ser.

No Sábado, ao pôr-do-sol, o chão da Serra de Montesinho estava ensopado e a chuva a querer espreitar das nuvens. Por prudência apontámos à Casa Abrigo da Lama Grande “em recuperação” que sabíamos, por conversa com gente na aldeia de Montesinho, estar aberta. Quando chegámos aos 1480 m. de altitude lá estava o frio e o Abrigo, afinal uma senhora-casa, comprida, com casas de banho que não preferimos à natureza e duas salas apetrechadas de lareira. Havia algum lixo arrumado numa caixa sob o alpendre, portas destrancadas, janelas sem vidros e portadas às escancaras. Lá dentro garrafas (vazias) de vidro, caricas e fuligem pelo chão, uma cadeira e uma vassoura. Mas de obras nem sinal!

Com arte, lá acabámos por montar as tendas no chão seco dentro do Abrigo, à luz de uma fogueira com lenha que gentilmente lá estava à nossa espera. Encostámos as portas e as portadas, comemos e fomos dormir. Não choveu durante a noite, nem ouvimos lobos a uivar. De manhã estava mais frio dentro do que fora do abrigo.

Mais ou menos retemperados com o descanso, à abalada para a segunda etapa da aventura uma reflexão se impunha e foi matéria debatida logo nas primeiras passadas do trajecto: quem seriam as figuras possivéis para substituir o Carmona Rodrigues no município de Lisboa? Ah não, não foi aqui que estivemos a brincar aos presidentes! Primeiro tentámos entender: por que razão é que o ICN não tem estes abrigos a funcionar? Estão as casas construídas e, pelo trato que terão tido, nem estão nada mal executadas; para se chegar lá já há caminhos percorríveis por automóveis; o lugar é bonito e isso é por certo o bastante para quem goste deste estilo de preguiça; ai... mas do que mais se pode estar à espera para pôr em exercício estas existências. E nem insistimos na questão que levará o ICN a apresentar estes abrigos como "em recuperação", metam "abandonados" sempre se sabe melhor com o que contar.

Mais próximo da chegada a França, à aldeia de França, encontrámos a Casa Abrigo do Rio Sabor também "em recuperação", nos mesmos moldes da empreitada da Casa Abrigo da Lama Grande. Mas que bonita é esta antiga casa de Guarda Florestal.

02 maio 2007

Caminhar

29.04.07, Serra de Montesinho, Bragança

De carro a paisagem foge, o leitor de cd's esgota-nos os sons, o condutor é mero serviçal e a velocidade na estrada adormece-nos a mente.
A pé a paisagem enche-nos, o silêncio deixa-nos ouvir os barulhos do nosso cérebro, a solidão alterna com a companhia ao ritmo de um passo mais acelerado ou menos, a velocidade do caminho engole-nos.
Não há melhor do que seguir andando, palmilhando uma terra que só se vê se assim for. E vê-se até ao fundo.

Por Montesinho

29.04.07, Serra de Montesinho, Bragança

O Parque Natural de Montesinho foi criado em 1979 e estende-se pelos concelhos de Bragança e Vinhais, ali na ponta mais a nordeste de Portugal.
O relevo deste cantinho não se exibe em grandes dramatismos de precipícios alucinantes ou cumes de fazerem arquear pescoços, tão pouco nos traz à mente a viçosa frescura de pinheiros, de florestas densas, ou lagoas e rios espelhados. Montesinho é antes uma paisagem discreta com vistas alargadas sobre montanhas suaves (chamam-lhe Peneplanície Fundamental) vincadas por vales de rios modestos. No alto vinga a secura do granito, da urze e da carqueja; junto aos rios há freixos e salgueiros; e entre estes, carvalhos e castanhos enquanto a altitude os deixar.
Mas esta é uma paisagem capaz de nos atrapalhar a respiração, de nos provocar incertezas sobre se estamos ou não a sonhar e até de nos fazer duvidar sobre em que planeta estamos afinal. Ao pôr-do-sol, o lilás da urze baralha-nos o cérebro e, ainda que se exclua de imediato a hipótese de estarmos em alguns dos planetas do nosso sistema solar, o planeta Terra não é, por certo, a primeira escolha.

Este 1º de Maio levou-nos para mais uma caminhada: 4 aventureiros, 2 dias, 1 noite, 40 Kms, entre França – Montesinho – Lama Grande - França .
Pareceu-nos que teríamos de voltar. Uns noutro ritmo mais calmo outros no mesmo ritmo mais delongado.

Links Úteis (para começar):
ICN/SIPNAT-info Serra de Montesinho