Eduardo e Mariana
Domingo de Julho
Praia de São Pedro de Moel, Marinha Grande
Os Bancos devem estar cheios de dinheiro e de ousadia mas vazios de valores ou de vergonha.
Vêm já de há algum tempo estas marteladas sobre as nossas cabecinhas com anúncios dos Bancos apelando ao crédito (crédito embrulhado em papel pardo ou de lustro, crédito em caixa de cartão ou latas em forma de coração, credito para usar e deitar fora, crédito de estimação...). Nota-se bem o exagero na TV e na Rádio, principalmente à hora dos noticiários. Sai um, entra outro, espreita um terceiro e prepara-se o quarto. Bora lá, endividem-se!
Nas duas últimas semanas temos ouvido na TSF um anúncio especialmente mau.
O mais espirituoso-e-santíssimo dos bancos lembrou-se de fazer um spot publicitário para um crédito à habitação que deve ser especial sei lá porque que carga d'água. Um desgraçado, infeliz e miserável rapaz, o Eduardo, sentado no seu sofá, apregoa que estava para ali a não fazer nada e sem sequer pensar fosse no que fosse quando se lembrou de arranjar uma forma para também não pensar na Prestação da sua casa. Decidiu ir ao banco (ao espirituoso-e-santíssimo, claro) que lhe tratou logo de tudo o que é impresso e chatice e trabalho e acção.
Assim, o Eduardo volta, desgraçado, infeliz e miserável, ao seu sofá para descansar e, orgulhosamente, dedicar-se a "não pensar em ab‑solu‑tamen‑te mais nada".
Para temperar esta mixórdia, esta segunda-feira que passou juntou-se ao jovem Eduardo a menina Mariana. Ela já não tem um camuflado sotaque do norte, é de um estilo mais moderno, mais rufia mais "inapágandideia!". Mas é cá uma menina das nossas, igualmente desgraçada, infeliz e miserável, igualmente sentada num sofá, igualmente ocupada a "fazer menos do mesmo hi-hi-hi!".
Ai, tem mesmo de me sair um Dasse, como é que isto é possível? Se eu ainda tivesse a minha conta naquele espirituoso-e-santíssimo banco ia já lá cancelá-la (outra vez). Com um anúncio assim, aposto que os funcionários do balcão também devem gostar de, e devem mesmo ser incentivados a, nada pensar e nada fazer.
Para temperar esta mixórdia, esta segunda-feira que passou juntou-se ao jovem Eduardo a menina Mariana. Ela já não tem um camuflado sotaque do norte, é de um estilo mais moderno, mais rufia mais "inapágandideia!". Mas é cá uma menina das nossas, igualmente desgraçada, infeliz e miserável, igualmente sentada num sofá, igualmente ocupada a "fazer menos do mesmo hi-hi-hi!".
Ai, tem mesmo de me sair um Dasse, como é que isto é possível? Se eu ainda tivesse a minha conta naquele espirituoso-e-santíssimo banco ia já lá cancelá-la (outra vez). Com um anúncio assim, aposto que os funcionários do balcão também devem gostar de, e devem mesmo ser incentivados a, nada pensar e nada fazer.
Força Portugal, vamos andando que para a frente é que é o nosso caminho!
13 comentários:
Há dois anos fui à festa do avante e dei de caras com caixas multibanco patrocinadas por .... espirito santo.
Eu nem queria acreditar. A publicidade estava por todo o lado. O mundo vai muito mau quando até os comunas se vendem ao melhor preço.
Claro está, escrevi uma queixa ao partido comunista português, sublinhando a enorme contradição do que tinha visto. Se ainda fosse o montepio, único mutualista que aí anda. Agora o bes?!
Não tiveram presença de espírito para me responder.
Assim vai de facto o nosso triste país. Seria engraçado saber as estatísticas da posse de conta no bes ou bcp de socialistas e comunistas. As pessoas simplesmente não pensam nisso. Visitei uma auto-denominada eco-aldeia para a paz o ano passado e a conta era do bcp.
Já agora, eu tenho na cgd e no montepio.
As organizações projectam o cliente ideal que desejam na publicidade que fazem.
No caso da presente, o banco em questão deve ter um gosto especial por ter jovens imbecis preguiçosos como clientes.
Porquê, não estou seguro.
Talvez:
Jovens, para que tenham tempo de pagar a longa dívida que vão contrair até aos oitenta anos de idade.
Imbecis, para aceitarem as lindas condições de amortização.
E preguiçosos, para não se darem ao trabalho de pensar muito na asneira em que se vão meter.
(Hoje estou má língua, não ligues).
E eu estou prestes a entrar nesse mundo...
Fui ao MG e à Caixa pedir simulações de empréstimos habitação. Insistem em querer dar o crédito a 42 anos, que é mais fácil. Claro, é mais fácil para as imobiliárias que assim conseguem manter os preços estupidamente altos. Se o limite de empréstimo fosse 20 anos, por exemplo, os preços das casas baixariam muito.
Mas o dinheiro parece de facto fácil. Se não se quiser pensar muito no assunto, claro.
Nunca tive um cartão de crédito mas a dívida espera-me de braços abertos para poder pagar casa.
O que fazer?
É, eu não tenho dúvidas de que a banca é dos negócios mais revoltantes que há... E a publicidade de que fala a Jota uma contradição aberrante com o discurso político+ observatório-do-endividamento e companhia...
Várias vezes tenho amaldiçoado os bancos desde que me apercebi que estamos totalmente à sua mercê: quando estive a fazer o Erasmus, por razões práticas e de segurança, procurei um banco para depositar o dinheiro que recebi de uma assentada para 3 meses e mesmo a CGD, o meu banco, presente no país em questão, se recusou a isso.
Acho que os comunas não podem sempre «remar contra a maré», Pedro...
A propósito de «vermelhos e barbudos» (não confundir com o pai Natal!), já viram o filme «Por culpa de Fidel»? Acho que vale bem a pena.
Olá Raquel,
não concordo mesmo nada com os comunas não poderem remar contra a maré. Neste caso não era difícil uma escolha um pouco mais ética. Ao aceitar a proposta que o BES lhes deve ter feito mostraram uma ganância igual à que caracteriza a sociedade em geral e pela qual supostamente lutam. São decisões que, para mim, tornam insustentável vir depois defender isto ou aquilo.
Concordo que é difícil ser coerente todo o tempo, mas este erro de juízo é, a meu ver, excessivamente crasso.
Pedro:
Na verdade não sei bem como explicar este meu ponto de vista: acho que alguém por defender determinados princípios não vai deixar de usar as regras do jogo em que está metido... A menos que acredite na salvação.
Mas tens possivelmente razão nesta questão e foram sem dúvida incorrectos em não te responder.
(A Jota já deve estar a dizer com ironia «não façam cerimónia...», ou então «por que estes gajos não arranjam um blog?!»).
:P
Eu acho que secretamente a J gosta que a malta invada o seu blog!
Eu concordo e discordo contigo, Raquel. Penso que se pode defender um ponto de vista e não aplicar na sua vida as implicações do mesmo. E ainda bem que assim é. Se não não havia defensores dos direitos do homem - imaginem todos se todos os sócios da Amnistia Internacional não pudessem ir de férias para, sei lá, Cuba por exemplo, para escolher um exemplo polémico - ou se para se ser sócio da Quercus fosse necessário abdicar de ter carro. Não haveriam muitos (e já são assustadoramente poucos!).
Claro que é preferível ter-se simpatizantes e defensores de ideias e não ter de se aplicar as mesmas no seu dia a dia (pelo menos até serem aplicadas por todos).
Mas acho também que alguns princípios são mais fundamentais que outros. E o Partido Comunista não devia ser apenas mais um partido, até porque para se fazer parte e ser-se dirigente se é obrigado a aceitar um conjunto de regras, desde a entrega de rendimentos ao partido, etc.
Que depois como conjunto se ignorem essas regras custa-me um bocadinho a aceitar. Que se aceite a melhor proposta do BES e se ignore que o dinheiro deriva da aplicação de uma filosofia económica radicalmente oposta à defendida pelo partido, filosofia essa que implica a "exploração dos seus trabalhadores" parece-me excessivo e condenável.
Porque senão caímos no relativismo total, na hipocrisia e cinismo que dominam os nossos dias e que tão perigosos são.
Pensamentos que me vêm à cabeça.
(shiiiu, deixem-se ficar aí caladinhos mais um bocadinho para ver até onde o pedro e a raquel respingam um com o outro e cada um com os bancos...)
Pedro, talvez não estejamos assim tanto em desacordo... Eu cá diria que talvez fosse de esperar que um activista da AI não passasse férias em Cuba sim, mas de facto nem todos os ecologistas podem prescindir de ter carro...
Pronto, Jota, este vai ser o teu post mais comentado... Mas eu agora resisto e calo-me.
E quando se cala um português, calam-se logo dois ou três...
Aos conversadores:
www.blogger.com! e ":p" como diz a Raquel
E havia mais outra coisa qualquer para eu responder aqui neste emaranhado de conversa... o que é que era... onde é que estava... Ah!:
Obrigada pela dica do Por Culpa de Fidel. Ter-me-ia passado ao lado este filme por estar apenas nas Amoreiras e no Corte Inglês. Fui lá ontem e gostei!
:)´
(E vão 12!)
Ontem fiz um viagem de pópó e em todas as rádios se ouviam a toda a hora Mariana e o Eduardo gritar de felicidade por irem pagar tão pouco até morrerem. Confesso que ainda não tinha ouvido a campanha, apena comentado o seu conteúdo. Mas convenhamos que a mesma é absolutamente execrável, apelando à dívida e à desresponsabilização.
Boa Jota por teres posto o dedo em uma das coisas que vai mesmo mal nestas bandas.
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