12 julho 2007

Citânia de Briteiros

Citânia de Briteiros

Poupo a vergonha de nunca ter ouvido falar deste lugar pelo facto de, entre a meia dúzia de gente a quem entretanto falei dele, apenas a minha avó o conhecer e ter mesmo lá estado. Na Freguesia de Briteiros de São Salvador, 15 km Norte de Guimarães, conserva-se no topo do monte de São Romão um bonito castro datado da Proto-História. Chama-se citânia de Briteiros e dela se diz ser uma das mais “expressivas” entre todos os castros característicos do Noroeste da Península Ibérica. Alguns estudiosos do lugar crêem que seja uma das mais antigas, com uma ocupação a remontar ao Neolítico Final (parece-me que uns 4mil anos a.C).

(Num instante esclareço que: as citânias são castros grandes, estabelecidos antes da ocupação romana; a Proto-História é um pomposo nome dado ao período da História que fica entre a Pré-História e a Antiguidade Clássica, arrumado desde o séc.XI a.C até o séc.I a.C. incluindo as Idades do Bronze e do Ferro).

Fica-se logo de olhos vidrados naquela paisagem sulcada a pequenos muros rectos ou circulares onde se sente que andou gente. Para além das vias bem desenhadas, algumas delas com um pequeno caneiro lateral, espantem-se com as habitações circulares e as suas antecâmaras, com a enorme Casa do Conselho (foto do fundo) com banquinho incluído, com o Balneário (em palavras de hoje chamar-lhe-íamos uma sauna, com banho de vapor quente e de seguida água fria) ou com as duas casas recuperadas por Francisco Sarmento (ler à frente) mas nem por isso do seu agrado. De estranhar será ver uma pequena capela cristã com um cemitério, que se pensam serem datados do séc. X ou XI.


Em 1875 e por iniciativa própria, o vimaranense Francisco Martins Sarmento (homem abastado e interessado, advogado de formação, poeta de coração, escritor frustrado e, finalmente, arqueólogo e fotógrafo por exclusão de partes) deu início a escavações arqueológicas neste lugar que há muito mostrava estranhas arrumações de granito. Uns anos depois, o Senhor Francisco já tinha comprado os terrenos e andava entusiasmadíssimo a exibir as suas descobertas aos estudiosos estrangeiros de então que se deslocaram em massa a Briteiros para observar estas descobertas e foram recebidos com banda musical e tudo.

Todos os frutos das suas investigações e escavações acabaram legados à Sociedade Martins Sarmento. Para além da Citânia (e de outras 1500 coisas de tamanho mais pequeno), são património desta sociedade dois Museus: o Museu Arqueológico Martins Sarmento e o Museu da Cultura Castreja.

O primeiro, no centro da cidade de Guimarães, ocupa parte do edifício-sede (projecto do famoso arquitecto do Porto Marques da Silva, datado de 1900) da própria Sociedade e vai acumulando vários objectos encontrados na citânia de Briteiros, noutros castros próximos e nalguns mais longe, como Almeirim! À guarda do Óscar, a exposição das peças maiores é feita nas traseiras da sede que roubam o espaço do bonito claustro da Igreja de São Domingos. Digamos que aqui os objectos estão um tanto ou quanto semeados pelo claustro, quem sabe se à espera que criem raízes e dêem frutos.

O outro museu, o da Cultura Castreja, ocupa o Solar da Ponte, antiga propriedade da família Sarmento. Fica já fora de Guimarães, em São Salvador de Briteiros. Aí se aprende sobre a vida do senhor Francisco, refez-se a sua escrivaninha, o seu laboratório fotográfico e dão-se a conhecer as curiosas (muito curiosas) missivas trocadas entre Martins Sarmento e Camilo Castelo Branco (que humor o daqueles dois, quando já mais velhos que velhos à beira da morte!). Na cave, repousa a mais famosa que formosa Pedra Formosa que uns dizem ter sido retirada de um balneário, outros de um mausoléu. Em em tempo também houve a versão de fazia parte de um altar de sacrifícios de animais (história ainda hoje impingida, com fé e emoção, pelo guia do Museu de Arqueologia). A tardoz do solar, estende-se uma vista para os terrenos ainda à espera de amanho.

Dois postos de Turismo de Guimarães agoiram como é difícil tomar autocarros para chegar a este Museu. Os mesmos dois postos de Turismo de Guimarães dizem que é fácil ir do Museu até à Citânia tomando o percurso pedestre de Pequena Rota (pr2 citânia), a ter início à porta do Museu. Eu tentei, um e outro. De autocarro cheguei sem espinhas. A pé é que nem por isso.
Não se fiem que aquilo é “fácil e com desníveis pouco acentuados”, nem se fiem neste minimal mapa, o único cedido nas brochuras do Turismo de Guimarães. Consciente da porcaria de mapa que tinha para me orientar, lembrei-me de fotografar, perto do Museu, o mapa do "outdoor" que já era melhorzito. Mas lá para o fim do percurso perdi-me mesmo em pleno mato e quando me apercebi disso achei que nem valia a pena voltar para trás, certa de que o caminho por onde eu ia havia de ir dar a algum lado. Não foi nada de grave. Passado um pouco avistei uns telhados, para onde me encaminhei e encontrei um café. Vermelha como um tomate, daqueles bem maduros que até já têm umas mossas, entrei e Boa Tarde, diga-me senhor isto aqui é Briteiros? Sim éie, mas aqui à bolta hái três Freguesias de Britéiros, há Beitéiros de Sãou Salbador, Britérios de Sãnta Leocádia e Britéiros de Sánto Estébão! Ai sim, e esta não é a de São Salvador pois não? Nãoe aqui éie Santo Estébão. Pronto 'tá bem, então e diga-me lá, para Guimarães onde é que apanho o autocarro? Para Guimarãeis é mesmo nesta estrada, póde apanhar na paragem ali para trás oue ali para a frente. Qual é mais próximo? Ai é igual menina, mas na paragem da frente o bilheite debe sair mais barato.

(Assim como assim vale mais espreitar com tranquilidade garantida umas habilidades das modernices da Internet nesta visita virtual.)


A casa do conselho e
uma das vias principais da citânia

3 comentários:

Anónimo disse...

É mesmo coisa de mouros... :P

Pois eu não tenho a idade da tua avó e conhecia de nome a citânia, se é que não fui lá mesmo com a escola quando era miúda e não me lembro... Mas como em Biana também temos disto... Assim é mais fácil conhecer o impacto dos romanos, que nos colocaram à beira rio, à beira mar...

Bom, finalmente, uma nota para dizer que fico feliz que, depois de tantas vezes perdida, tenhas encontrado direitinha o caminho de casa... :P

RPL disse...

À de Briteiros nunca fui, mas à de Safins já. A de Briteiros é mais conhecida, mas fiquei encantado pela de Safins e há algum tempo que ambiciono visitar também a primeira. Na de Safins havia umas casas reconstruidas e um bar/centro de apoio utilizado por motards. E depois as vergonhas portuguesas do costume: indicações na auto-estrada que desaparecem nas estradas nacionais. Porquê? Porque aquilo está num certo Concelho e os de passagem desde a auto-estrada recusam-se a anunciar algo que não lhes pertence (se no Norte o São João é mais divertido a verdade é que o bairrismo atrofiante é também mais acentuado). Mas que valeu a visita valeu. Somos transportados para outro tempo, outra forma de viver. Terei que ir visitar a Citânia de Briteiros também, algo que ambiciono há anos. Mas não deixa de ser marcante como estas joias arqueológicas nacionais são continuamente sub-aproveitadas.

Jota disse...

Raquel: direitinha, direitinha não sei se foi, mas lá que cheguei, cheguei (pelo menos até ver!).
Pedro: quando fores à de Briteiros não te fies nos horários apresentados nos prospectos do Turismo. O melhor é telefonares no próprio dia para saberes se estão abertos à hora de almoço. Do que percebi, uns dias abrem, outros nem por isso, normalmente só às vezes e mais raramente depende.