25 abril 2007

33 x 25 de Abril

250407,Restauradores, Lisboa E falou na Assembleia o presidente da nossa República. Falou para os “jovens”, ou melhor, falou sobre os “jovens de hoje” para quem o 25 de Abril não devolverá à memória sentimentos de uma vida passada sem liberdade, os “jovens de hoje” para quem estas celebrações repetidas ano após ano não têm significado nem serão capazes de despertar valores de pertença de si próprios à Liberdade que se festeja. O presidente afirma, em guisa de conclusão, que há que modernizar o “modelo das comemorações” para encantar os "jovens de hoje". Não quero estar agora aqui a dizer que isto é um disparate, até porque não se espera (?) que o presidente da nossa república diga disparates, mas parece-me que o senhor se engana. Primeiro, não é justo dizer que é aos “jovens de hoje” que as celebrações do 25 de Abril não trazem significado, ou não provocam emoções. Não provocará para alguns jovens como não provocará para outros menos jovens, agora não entendo é o que tem a idade que ver com isto? E de que significado fala ele? Terá com certeza um significado, um outro significado, não é legítimo querer que seja o mesmo para o pai e para o filho. E, o segundo engano, as manifestações intencionais, as de convicção, que a cada ano comemoram mais um aniversário sobre o 25 de Abril de ’74 têm de, e devem e só podem, ser feitas pelos que viveram aquele dia, e devem ser feitas da forma que esses escolham. E se são feitas sempre da mesma maneira pois que o sejam então, e que sejam durante muitos anos enquanto forem todos vivos. A juventude sub 33 terá oportunidade de se manifestar e de celebrar à sua maneira as conquistas que ela própria fizer. É certo, talvez não faça muitas, talvez viva acomodada a uma facilidade de existência que sempre conheceu.
Hoje, 25 de Abril, pela Avenida desceram sindicalistas de microfone sem pilhas e voz rouca aos soluços. Iam acompanhados por um coro de meia dúzia de pessoas-pingadas com olheiras cansadas, cravo arrebitado na lapela, enfiado no decote, preso no cabelo, seguravam cartazes de frases que se gastassem de cada vez que eram ditas, hoje nem se leriam e nem se ouviriam. Rufaram tambores, dançaram campinos, haviam um flautista e tossiram os espectadores por causa das sementes das árvores da avenida.
Hoje, 25 de Abril, inaugurou-se o túnel do Marquês. Humm, será que já estamos a modernizar as celebrações? Porque não modernizamos também as celebrações do Natal?
Mas nem política nem meteorologia se querem temas fortes deste Respigo. Tenho dito.

2 comentários:

Quico (Francisco Freire) disse...

Cá pra mim os 'jovens' levaram logo demasiado à letra o alerta do presidente. "Não se resignem" foi o apelo ao meio dia. Poucas horas passadas 'os jovens' não se resignaram a subir a rua do Carmo deixando votos de não resignação nas montras das lojas até que foram resignados num beco sem saída e levaram umas boas resignadelas no resignanso!

Anónimo disse...

Hm... Sem querer que confundam o meu comentário com a subscrição das palavras do Presidente Cavaco, parece-me que seria importante que alguns jovens e menos jovens, como bem observa a Jota, até agora alheados da festa, comemorassem de algum modo o 25 de Abril sim... Não estivemos todos lá, nem poderíamos, mas todos beneficiamos hoje dele. Aliás, a mistura das manifs, que não contam só com sindicalistas nem com homens de olheiras, mas com tambores, campinos e outros, parece-me ter já alguma côr. Imagino que os capitães de Abril se alegrassem ao dizer que «foi bonita a festa, pá...». Eu cá reparei que foi anunciada a assinatura de um protocolo entre a Associação 25 de Abril e o Ministério da Educação para que os estudantes ouçam dos actores a sua versão da História... Parece-me tão boa notícia esta e, no entanto, uma medida tão simples, uma visibilidade tão reduzida...